Título: Lula libera R$1 bilhão para programa nuclear
Autor: Barbosa, Flávia e Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 11/07/2007, Economia, p. 24

Objetivo é completar ciclo do urânio para geração de energia. Marinha quer construir submarino.

IPERÓ (SP). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou ontem a liberação de R$1 bilhão em oito anos para o término do programa nuclear da Marinha. Atrasado em pelo menos dez anos devido à falta de recursos, o programa já consumiu US$1,117 bilhão (cerca de R$2,112 bilhões) desde 1979. Com o investimento, a Marinha poderá completar o ciclo do combustível - a única etapa ainda não dominada pelo Brasil é o enriquecimento de urânio em escala industrial. A Marinha também poderá concluir o reator do Laboratório de Geração Nucleoelétrica (LabGene). A tecnologia desenvolvida pela Marinha poderá ser usada para fins militares, como a construção do submarino nuclear brasileiro, e para a geração de energia elétrica. Ontem Lula reafirmou que, além de Angra 3, o governo pretende construir novas usinas nucleares:

- Se for necessário, nós vamos construir, até porque é uma energia limpa, está provado que hoje nós temos segurança - disse o presidente.

Ainda comemorando a liberação das licenças ambientais para as usinas do Rio Madeira, Lula fez só uma ressalva: a prioridade ainda é a energia hidrelétrica, devido ao baixo custo.

Em visita ao Centro Experimental Aramar, em Iperó (SP), Lula anunciou a liberação, até 2015, de R$130 milhões por ano para o programa nuclear da Marinha. Nos últimos anos, o programa vinha sobrevivendo com cerca de R$40 milhões anuais, suficientes apenas para a manutenção dos equipamentos.

Submarino nuclear exigiria investimento de R$3 bilhões

Com o domínio do ciclo do combustível, o centro Aramar terá capacidade para produção de 40 toneladas de urânio em gás ao ano, que, por sua vez, poderão produzir duas toneladas anuais de pastilhas de urânio (combustível final usado em reatores) até o fim de 2007. O reator pode ficar pronto até 2011.

A Marinha já possui tecnologia para enriquecer o urânio, mas o processo é feito apenas em escala de laboratório. O processo consiste em transformar o urânio natural, que tem 0,7% de energia nuclear, em gás de urânio, com teor 4%. A partir do gás são feitas as pastilhas. Atualmente o país manda a pasta-base de urânio para o Canadá, onde o minério é enriquecido e transformado em pastilhas.

Embora o governo demonstre mais interesse no uso da tecnologia para produção de energia elétrica, o objetivo final da Marinha é a construção do primeiro submarino nuclear brasileiro, cujo investimento necessário é de R$3 bilhões.

- Mas este é um outro passo - disse o comandante da Marinha, almirante Julio Soares de Moura Neto.

Lula acenou com a possibilidade de liberação de verbas para o submarino e admitiu a necessidade de reaparelhamento das Forças Armadas:

- Por que não sonhar grande e dizer que nós queremos chegar até a possibilidade de ter um submarino nuclear?