Título: Policiais e MP federal investigam vazamento de informação na PF
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 13/07/2007, Economia, p. 26

Empresário preterido em fraude fez denúncia, mas apuração não avançou.

RIO e BRASÍLIA. A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) estão investigando o suposto vazamento de informações da Operação Águas Profundas, que levou à prisão empresários, lobistas e laranjas envolvidos em fraudes em licitações e na captação ilegal de recursos da Petrobras. O vazamento, que prejudicou uma das investigações, teria ocorrido na Delegacia de Polícia Fazendária, da PF do Rio, em 2005. Pelo menos quatro policiais federais são suspeitos de repassarem informações sigilosas do processo para um grupo de implicados, em troca de propina.

O vazamento, segundo a PF, pode ter permitido a fuga de quatro das 18 pessoas que tiveram a prisão preventiva decretada pela Justiça Federal. Um dos foragidos é o policial federal Sérgio Fernandes Granja, lotado no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio. Segundo o relatório do delegado Claudio Nogueira, responsável pelas investigações, Granja repassaria informações à quadrilha em troca de propina. Ele seria um dos donos de uma empresa de produções artísticas.

De acordo com a PF e o MP federal, em 2005, um empresário envolvido no esquema de fraudes nas licitações da Petrobras procurou a Delegacia Fazendária arrependido e disposto a contar como a quadrilha atuava. Fez várias denúncias, detalhou como eram praticadas as fraudes e prestou um longo depoimento, no qual apresentou uma relação de nomes, entre os quais o do contador Ruy Castanheira. Como a investigação não foi adiante na PF do Rio, o empresário decidiu procurar o Ministério Público Federal. O caso então foi enviado ao delegado Paulo Lacerda, diretor-geral da PF, em Brasília.

Preterido usou fitas gravadas para pressionar Petrobras

Os policiais federais hoje encarregados das investigações e os procuradores do MP federal disseram que o empresário era ligado à empresa Angraporto, participava das fraudes, mas acabou preterido dos negócios ilegais. Revoltado, resolveu denunciar o esquema. Chegou, inclusive, a usar fitas gravadas pelos policiais na primeira parte das investigações, para pressionar funcionários da Petrobras em troca de favores e dinheiro.

- Ele fazia parte do esquema, mas foi preterido pelo grupo. Chegou a ficar um período protegido pela PF, com segurança 24 horas por dia, e acabou tendo acesso a um disquete com gravações sigilosas feitas pelos federais da Fazendária - disse um policial envolvido nas atuais investigações.

A PF passou o dia ontem analisando o material apreendido na operação e documentos que chegaram com a quebra de sigilo fiscal das empresas fantasmas. Foram identificadas mais de 30 firmas, boa parte delas com sede em Niterói, São Gonçalo e no interior do estado do Rio. Um rastreamento preliminar identificou indícios de que parte dos recursos obtidos nas fraudes foi parar no caixa de campanha de um grupo de políticos fluminenses. As suspeitas apareceram durante a análise da quebra do sigilo fiscal das empresas usadas no esquema e do sigilo telefônico dos denunciados pelo MPF.

O mesmo indício teria sido encontrado no caminho dos recursos captados por ONGs que tinham convênios com o governo do Rio e que fizeram contratos com empresas fantasmas. Segundo a PF, os envolvidos nas fraudes foram flagrados em escutas telefônicas autorizadas pela Justiça Federal, detalhando como o dinheiro seria entregue aos políticos. Os candidatos beneficiados não foram revelados.

Segundo cálculos feitos pela PF, há suspeitas de movimentações financeiras de até R$7 milhões nas contas de laranjas e das empresas fantasmas administradas, teoricamente, por Castanheira. "Os recursos obtidos nas fraudes das licitações da Petrobras eram ocultados pelas empresas fantasmas, viabilizando a sonegação fiscal de tributos federais, sobretudo o Imposto de Renda", afirmou, em seu relatório, o delegado Claudio Nogueira.

A Polícia Federal apreendeu dez armas, inclusive duas submetralhadoras Uzi, na casa do empresário Arnaldo Araújo Mattos, um dos investigados pela Operação Águas Profundas. Entre as armas recolhidas na terça-feira, estão ainda três escopetas, uma carabina e uma pistola 365. Também foram apreendidos um silencioso para metralhadora, uma mira laser e dois carregadores de pistola. Mattos apresentou à polícia documentos para provar que é colecionador e que não haveria nada de irregular no arsenal.

- Vamos analisar os documentos - afirmou o delegado Claudio Nogueira, que está à frente das investigações.

A PF também apreendeu R$500 mil em espécie na casa do empresário Felipe Castanheira, outro acusado de envolvimento com fraudes em licitações da Petrobras. Ele é filho de Ruy Castanheira, um dos principais operadores da quadrilha.

COLABOROU Jailton de Carvalho