Título: Empresas fizeram doações a campanhas do PT
Autor: Ordoñez, Ramona e Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 13/07/2007, Economia, p. 27
Iesa destinou R$1,56 milhão ao partido. Estaleiro Mauá Jurong financiou quatro candidatos no Estado do Rio.
RIO, BRASÍLIA e SALVADOR. As empresas que aparecem nas investigações da Operação Águas Profundas admitiram ontem ter doado recursos para a campanha do PT e para quatro candidatos a deputados do partido pelo Estado do Rio nas últimas eleições. Só A Iesa Óleo & Gás doou R$1,56 milhão ao PT, além de outros R$50 mil à campanha do senador Delcídio Amaral (PT-MS) ao governo do Mato Grosso do Sul. Delcídio não foi eleito.
Já o Estaleiro Mauá Jurong destinou um total R$180 mil às campanhas de três deputados federais do PT pelo Estado do Rio (Chico D"Angelo, Luís Sérgio e Jorge Bittar) e do deputado estadual Rodrigo Neves. Todos saíram vitoriosos das urnas.
As cifras foram apresentadas à Justiça Eleitoral na prestação de contas dos próprios candidatos. As empresas garantiram, contudo, que foram operações legais registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo a firma de engenharia Iesa, as doações não foram motivadas por afinidade ideológica, e sim "por coerência com a política industrial do governo Lula".
O deputado Jorge Bittar (PT-RJ), por sua vez, afirmou que a doação é lícita e não há espaço para ilações que, em sua opinião, são maldosas:
- Quando a empresa Mauá me procurou, achei ótimo. Só lamento que não exista o financiamento público de campanha. Enquanto existir o financiamento privado, teremos que receber doações de empresas.
Tarso e Dilma elogiam colaboração da Petrobras
Ele afirmou que recebeu dinheiro de outras empresas, como Embraer, mineradoras e siderúrgicas, e que possíveis irregularidades cometidas por um diretor não podem colocar em xeque uma das maiores companhias navais do país:
- Alguns criticam o fato de que essas empresas só doaram dinheiro para candidatos do PT. Isso é normal. E antes, quando só candidatos do PFL recebiam doações?
Para Luiz Sérgio, líder da bancada petista na Câmara, não há motivos para o enfoque nas doações agora. Ele ressaltou que suas contas de campanha foram aprovadas pela Justiça Eleitoral e lembrou que outros estaleiros também contribuíram para sua candidatura.
- Fui metalúrgico naval por 22 anos, sempre tive ligações e defendi o setor, que é fundamental para gerar empregos no Rio de Janeiro - explicou.
Os outros parlamentares que receberam doações de empresas investigadas não foram localizados. O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, alegou uma agenda cheia de reuniões para não atender o GLOBO. Já o tesoureiro da sigla, Paulo Ferreira, pediu que o repórter retornasse a ligação em cinco minutos, mas não foi mais encontrado.
O estaleiro Fels Setal, que não aparece na Operação Águas Profundas mas está sendo investigado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), doou cerca de R$1 bilhão para a campanha à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
De acordo com o ministro da Justiça, Tarso Genro, o dinheiro usado no financiamento de campanha não foi o foco da Operação Águas Profundas. Ele afirmou que a PF não faz investigações de partidos políticos em campanha, mas de delitos:
- Se delitos forem descobertos, eles serão encaminhados ao Ministério Público.
Tarso lembrou que a direção da Petrobras colaborou com as investigações, inclusive deixando que os crimes acontecessem, a pedido da própria PF, que queria investigar toda a extensão da quadrilha.
Para a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o escândalo envolvendo a Petrobras não trará prejuízos à imagem internacional da companhia. Dilma disse ontem que a operação da PF demonstrou que, na Petrobras, estão sendo combatidos a corrupção interna e os crimes do colarinho branco. A ministra classificou como "boa governança" a administração da Petrobras e, segundo ela, foi justamente isso que possibilitou à companhia fazer uma investigação interna antes da Polícia Federal, descobrindo a formação de cartel.
COLABORARAM Chico de Gois e Dimmi Amora
TCU VÊ INDÍCIOS DE IRREGULARIDADES, na página 28