Título: No Ibama, clima de desconfiança
Autor: Novo, Aguinaldo e Melo, Liana
Fonte: O Globo, 12/07/2007, Economia, p. 22

Técnicos que iniciaram processo de análise ficaram fora da decisão.

BRASÍLIA. Os funcionários do Ibama, em greve há cerca de três meses, receberam com "estranheza" a notícia de que a licença prévia para construir as usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, foi concedida sem a participação dos oito técnicos do instituto que desde o início acompanharam o processo. Esses servidores, que também estão de braços cruzados, não participaram da decisão final sobre a licença, como disse na segunda-feira o presidente interino do órgão, Balizeu Margarido.

Os técnicos teriam tomado conhecimento da decisão do Ibama apenas na noite de segunda-feira, quando ela foi divulgada à imprensa. A Associação dos Servidores do Ibama informou ter conhecimento que outros técnicos, dentro e fora do órgão, estavam sendo ouvidos para dar continuidade ao processo. No entanto, não acreditavam que a licença pudesse sair sem o aval dos profissionais que originalmente acompanharam o processo e que ainda não avaliaram o conteúdo da decisão.

Para conceder a licença prévia das usinas, o Ibama mudou a avaliação sobre o percentual de sedimentos que poderiam ser depositados com as obras que, segundo estudos do consórcio que solicitou a licença (formado por Furnas e Odebrecht), poderia chegar a 14%, o que traria risco ambiental. O Ibama, no entanto, adotou o estudo feito pelo especialista indiano Salan Alam, que calculou em apenas 1%. Ou seja, com risco ambiental menor que o previsto pelos próprios empreendedores interessados.