Título: Mantega agora diz que BC vai perseguir 4,5%
Autor: Beck, Martha e Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 12/07/2007, Economia, p. 24
Ministro contraria o que fora dito por Henrique Meirelles após reunião do CMN e cria mais dúvidas sobre política.
BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, deu ontem um nó na cabeça dos agentes econômicos, ao afirmar que o Banco Central (BC) perseguirá uma meta de inflação de 4,5%. Desde que o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou, em junho, que o objetivo estava fixado em 4,5% para 2009, mas que o BC perseguirá na prática um percentual menor, de 4%, o mercado financeiro começou a especular que a equipe econômica poderia mudar o sistema. Isso acabou tumultuando o mercado e criando instabilidade. Mantega, no entanto, voltou de férias afirmando que isso não vai ocorrer:
- Em relação ao sistema de metas, não muda absolutamente nada. O Banco Central continua mirando no centro da meta e, portanto, a política monetária é a mesma - declarou, contradizendo o que foi dito pelo presidente do BC, Henrique Meirelles, após reunião do CMN.
A declaração do ministro contradiz o que foi afirmado por ele próprio durante a entrevista em que o CMN explicou a meta para 2009. Na ocasião, Mantega e o presidente do BC, Henrique Meirelles, deixaram claro que a instituição perseguiria uma inflação abaixo do centro da meta. Isso porque os índices de preços já estão, na prática, em torno de 4% e desde 2005 a autoridade monetária vem trabalhando abaixo do objetivo central.
- O BC, sempre que possível, deverá produzir uma inflação até abaixo do centro da meta porque, quanto menor a inflação, melhor será a capacidade de consumo da população brasileira e a previsão econômica que se faz no país - afirmou Mantega na ocasião.
A dubiedade, no entanto, acabou provocando polêmica no mercado. Os analistas vêm apontando que a falta de clareza do governo em relação à meta de inflação pode acabar gerando uma pressão sobre os índices de preços e aumento dos juros futuros.
Mantega disse, no entanto, que "quem gera inflação são alguns analistas de mercado". O ministro afirmou que tem gráficos comprovando que, desde o anúncio da meta, o Brasil conseguiu reduzir taxas pagas aos investidores que compram os títulos do governo brasileiro. O BC foi procurado para comentar a confusão, mas não quis se pronunciar.
- A divulgação da meta gerou maiores incertezas e, como foi recente, ainda não deu muito tempo para sentir os impactos. Mas eles podem ser ruins - avaliou a economista da consultoria Tendências Marcela Prada.
Já o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, prefere acreditar que imbróglio criado pelo governo não vai afetar o setor produtivo:
- Temos um único governo e uma única decisão. Os investimentos para nós não estão mais caros.