Título: TCU fará devassa em contratos da Petrobras com empresas suspeitas
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 14/07/2007, Economia, p. 29

OPERAÇÃO ÁGUAS PROFUNDAS: Análise envolve Angraporto, Mauá Jurong e Iesa.

Ministro critica falta de transparência e diz que abertura evitaria escândalos.

Henrique Gomes Batista e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. O Tribunal de Contas da União (TCU) vai fazer uma devassa nos contratos da Petrobras firmados em licitações fraudulentas descobertas pela Operação Águas Profundas, da Polícia Federal (PF), deflagrada esta semana. Isso significa analisar todos os desembolsos para as empresas que aparecem como integrantes da quadrilha que operava o esquema, como Angraporto, Mauá Jurong e Iesa Óleo & Gás. Para o ministro Augusto Nardes, que no TCU concentra os processos contra a petrolífera, a Petrobras está pagando o preço da pouca transparência.

- Se a Petrobras fosse mais aberta, escândalos como este poderiam ser evitados - avaliou Nardes ontem, no Rio, um dia após ter mantido reuniões na sede da Petrobras com a diretoria da estatal.

Órgão já questiona dois contratos com a empresa

Os encontros já estavam previamente agendados e tinham como objetivo negociar que a estatal conceda, voluntariamente, mais acesso aos técnicos e ministros do TCU. Nardes afirma que a Petrobras é muito fechada para as investigações do órgão. Ele lembrou que a situação é complicada, e a estatal, resistente, pois recentemente recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ganhou uma liminar para impedir que seus dados fossem fornecidos ao TCU, alegando que é uma empresa de capital aberto, com ações negociadas até no exterior.

Nardes afirma que é preciso uma solução definitiva para a situação da estatal:

- Ela tem uma situação privilegiada no mercado por ser estatal, e isso só reforça nossa necessidade de investigação.

Atualmente, o TCU - órgão do Legislativo encarregado de fiscalizar o Executivo federal e suas companhias - já questiona dois contratos da Petrobras, com os estaleiros de Cingapura Jurong Shipyard (que tem 35% do Mauá Jurong) e Fels Setal, este em associação com a firma Technip. O Fels tem participação no estaleiro Verolme, de Angra dos Reis. O TCU vê indícios de que foram pagos indevidamente US$177 milhões (R$336 milhões) nesses contratos, que somam cerca de R$4,8 bilhões e envolvem as plataformas P-52 e P-54.

Presos serão transferidos ao Rio na segunda-feira

Nardes confirmou que notificou ontem o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, para que a empresa apresente em no máximo cinco dias sua defesa para os questionamentos do tribunal. Ele afirma que quer tomar depoimentos antes de definir os próximos passos deste processo.

Em Brasília, a PF informou, à tarde, que os dois empresários envolvidos no esquema presos na capital - Wladimir Pereira Gomes e Fernando da Cunha Stérea, sócios da Angraporto - só serão transferidos para o Rio na segunda-feira. O atraso se deve a problemas de documentação.