Título: Diretoria dividida entre PT e PMDB
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 14/07/2007, Economia, p. 29

Escândalo pode ajudar Dilma a emplacar Graça Foster na área de Exploração e Produção.

O escândalo da Operação Águas Profundas veio a público em meio a uma ferrenha disputa política pelo comando da Petrobras. Neste segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidência e a diretoria da empresa estão divididas entre o PT e o PMDB. Um dos cargos mais cobiçados é justamente o de diretor de Exploração e Produção (E&P), que tem sob sua responsabilidade as licitações que estão sendo investigadas pela Polícia Federal. Afinal, de um total de US$87,1 bilhões que a estatal investirá entre 2007 a 2011, 56%, ou US$49,3 bilhões, serão gastos por essa diretoria.

Para se ter idéia de como a área de Exploração e Produção é disputada, o ex-deputado Severino Cavalcanti, quando era presidente da Câmara dos Deputados, chegou a pedir o cargo da "diretoria que fura poço". O pedido, no entanto, não foi atendido.

Desde 2003, o diretor de E&P é um funcionário de carreira, Guilherme Estrella. Já há algum tempo, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, tenta colocar Maria da Graça Foster, atual presidente da Petrobras Distribuidora (BR), numa diretoria da Petrobras. Tentou sem sucesso emplacá-la na Diretoria de Gás e Energia, ocupada por Ildo Sauer. Agora, o escândalo das licitações fraudadas é visto por muitos como uma chance para Dilma impor Graça Foster na diretoria de E&P, no lugar de Estrella, que poderia ficar desgastado com o caso.

Na Diretoria de Gás e Energia desde o início do governo Lula, Sauer foi indicação de Dilma, que, hoje, tenta utilizá-lo como moeda de troca. Estrella, apesar de indicado pelo PT, procura atuar de forma autônoma. Seu cargo, segundo fontes, agora é disputado pela indicada de Dilma e pelo candidato do PMDB, o diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa. O PMDB também tenta emplacar João Augusto Rezende nessa mesma diretoria de E&P.

O diretor financeiro, Almir Barbassa, não foi nomeação política. Trabalhava na diretoria e assumiu o cargo quando José Sergio Gabrielli tornou-se presidente da Petrobras. Barbassa hoje é da cota pessoal de indicações de Gabrielli.

O diretor de Abastecimento, Paulo Roberto da Costa, em seu primeiro mandato, era indicado pelo então deputado José Janene (PP-PR). Com a saída de Janene do Congresso, passou para cota do PMDB no Senado.

O diretor da Área Internacional , Nestor Cerveró, foi indicação do núcleo paulista do PT. Circulam rumores de que Cerveró sairia para atender ao grupo do PMDB na Câmara que apoiou a eleição de Arlindo Chinaglia para a presidência da casa.

A ministra Dilma disse ontem que as investigações da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) são uma forma de depurar o país:

- Isso deixa claro para a sociedade que não há mais impunidade. Acho que no Brasil vivemos em uma época diferente hoje. Uma época em que as coisas que estavam debaixo do tapete estão sendo colocadas a público - disse ontem a ministra.

Dilma não vê ligação entre as empresas que apareceram na Operação Águas Profundas e as doações de campanha, que totalizaram R$1,56 milhão ao PT e outros R$50 mil ao senador Delcídio Amaral (quando se candidatou ao governo de Mato Grosso do Sul).

- As empresas não doaram apenas para o PT, mas também para outros partidos - comentou a ministra, que esteve no Rio ontem para lançar os ônibus a biodiesel que serão usados nos Jogos Pan-Americanos.

Apesar de a Petrobras estar no olho do furacão, a ministra prefere minimizar os arranhões na imagem da empresa.

- Assim como não existe pessoa acima de qualquer suspeita, também não existe uma empresa acima de qualquer suspeita. Não estamos falando de uma empresa obscura, mas da mais transparente do país - avalia Dilma.

Ela lembrou que a Petrobras aderiu a Lei Sarbanes-Oxley, criada em 2002, nos Estados Unidos, logo depois do escândalo financeiro da Enron.