Título: PCdoB encerra casamento eleitoral com o PT
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 15/07/2007, O País, p. 13

Comunistas querem privilegiar aliança com PSB e PDT e planejam em 2008 ter candidatos a prefeito em dez capitais.

BRASÍLIA. Depois de passar os últimos 15 anos disputando eleições à sombra do PT, o PCdoB, o mais tradicional aliado dos petistas, está ensaiando andar com as próprias pernas. O primeiro movimento dessa guinada na tática dos comunistas, que desde 1989 sempre apoiaram as candidaturas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vai ocorrer nas eleições municipais do ano que vem.

"O PCdoB tem sido uma espécie de sublegenda do PT"

O partido pretende lançar candidatos próprios em dez capitais, entre elas São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife e Manaus. Nas alianças, vai abandonar a exclusividade com os petistas e privilegiar chapas com os partidos do Bloco de Esquerda, o PSB e o PDT. Esse processo de afastamento será ainda mais amplo em 2010, caso os comunistas concretizem o apoio à candidatura à Presidência do deputado Ciro Gomes (PSB-CE).

- O PCdoB tem sido uma espécie de sublegenda do PT. Não dá mais para continuar com essa tática, mesmo que tenhamos de recomeçar menores. Mas isso não muda nosso apoio ao presidente Lula e ao seu governo, aí não há estremecimento - afirma o presidente do partido, Renato Rabelo.

Os comunistas, que têm bancada de 12 deputados federais e um senador, formaram esse ano um bloco com PSB e PDT, para buscar uma nova alternativa politica e eleitoral. Também estão se afastando do PT no movimento sindical. O PCdoB participa de uma tendência chamada Corrente Sindical Classista que, nas últimas eleições para a direção da CUT, fez 29% dos votos.

A Corrente, contudo, não participa do comando da CUT e, por isso, decidiu criar uma nova central, a Central Classista de Trabalhadores (CCT), tão logo o Congresso aprove a medida provisória sobre a legalização das centrais sindicais no país.

- A CUT deixou de ser uma entidade plural, para ser um aparelho de uma das tendências do PT, a Articulação Sindical. Não há transparência no uso dos recursos da entidade. A convivência ficou difícil e complicada. A nova central vai nascer com cerca de 400 entidades sindicais - diz Renato Rabelo.

O estremecimento entre comunistas e petistas no movimento sindical ocorreu em 2006. Os comunistas acusam a Articulação Sindical, que dirige a CUT nacional, de ter dado um golpe para tirar-lhes a presidência da regional da Bahia. No Congresso, o desencanto ocorreu no início deste ano, quando o PT venceu as eleições para a presidência da Câmara, em aliança com o PMDB, depois de ter se recusado a apoiar a reeleição de Aldo Rebelo (SP).

- O PT deu asas à sua relação com o centro. O núcleo do governo Lula é entre o PT e o centro. O núcleo de esquerda é só fraseologia. Existe um vazio na esquerda e, por isso, criamos o Bloco de Esquerda - explica Rabelo.

O início do processo de divórcio de um dos casamentos mais duradouros da política brasileira foi deflagrado no dia 6 de julho, quando o Comitê Central decidiu que sua principal tarefa política "é o esforço para sedimentar e consolidar o Bloco de Esquerda - que reúne PSB, PDT, PCdoB, PRB, PMN e PHS - trazendo para ele novas forças capazes de sinalizar uma alternativa mais avançada para o país". Mas isso não significa exclusividade de candidaturas com os partidos do bloco.

- A realidade política não comporta candidaturas do bloco em todo o país. Não dá para fazer alianças artificiais, que não respeitem a vida política local - argumenta o líder na Câmara, Renildo Calheiros (PCdoB-PE).

Comunistas apoiaram criação de nova central sindical

Os comunistas também deram apoio à decisão de sair da CUT e criar a Central Classista de Trabalhadores. Para justificar essa mudança de política, os comunistas dizem que a CUT, nas mãos do PT, sacrificou sua autonomia diante do governo Lula e deixou de ser uma entidade plural e combativa. O secretário sindical do PCdoB, João Batista Lemos, interveio na reunião explicando a posição da Corrente:

- A CUT não é mais aquela entidade combativa, nem a Força Sindical é mais aquela entidade conservadora. Surgem a UGT, fusão de três centrais, e a Nova Central. A unidade não passa mais pela CUT, mas por uma coordenação das centrais existentes. O hegemonismo da Articulação Sindical impede a repactuação na CUT.