Título: A resistência
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 16/07/2007, O Globo, p. 2

O processo de cassação por quebra de decoro parlamentar contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), vai atravessar o recesso e se arrastar pelo segundo semestre. Seus aliados comemoram, acreditando no improvável: que a pressão da opinião pública irá arrefecer. Além de ganhar tempo, à espera de um milagre, o presidente do Senado aposta nos erros da oposição.

A postura no Senado do PSDB e do DEM, de exigirem o afastamento de Renan Calheiros, pode transformar o processo numa luta política. O presidente do Senado conta com isso para alinhar em sua defesa os aliados na oposição e a base governista. Foi nessa base, a do embate entre governo e oposição, que deputados envolvidos no escândalo do mensalão conseguiram preservar seus mandatos. Os líderes da oposição tentam constranger o governo a abandonar seu aliado, ensaiando obstruções, como ocorreu na votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), apoiado pelo líder do DEM, José Agripino (RN), chegou a ameaçar retirar seu partido das sessões do Senado se elas continuarem a serem presididas por Renan Calheiros. Um líder da oposição avalia que, numa votação secreta, ainda não há votos suficientes para cassar o mandato do presidente do Senado. A cassação de Renan não teria ainda, de acordo com esse senador, os 38 votos dos senadores de oposição ao governo Lula. Para mudar isso, a oposição vai manter a linha de politizar o julgamento. Os senadores do DEM e do PSDB têm recebido centenas de mensagens apoiando a atitude firme em defesa da ética na política. A resposta da opinião pública revelou que o julgamento do presidente do Senado pode ser um instrumento para enfraquecer o governo Lula e o PT, ambos já manchados pelo escândalo do mensalão. Essa circunstância explica o malabarismo dos senadores governistas no Conselho de Ética. A oposição vai esticar a corda e pretende retardar a votação da prorrogação da CPMF e da DRU.

Seus líderes apostam que a corda vai se romper. Acreditam que a pressão e o constrangimento forçarão o governo e os senadores governistas a reverem seu apoio à permanência de Renan Calheiros. O futuro vai depender do custo que seus aliados estiverem dispostos a pagar, e dos riscos que o governo vai poder correr, para preservar o presidente do Senado.