Título: Planalto agora decide não mais interferir para tentar salvar Renan
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 16/07/2007, O País, p. 4

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Neutralidade permitiria diálogo com possível sucessor.

Depois de esforço para ajudar aliado, Lula se afasta para evitar desgaste.

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto resolveu mudar a estratégia em relação à crise política envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em vez da articulação ativa nos bastidores em favor do aliado, que vinha fazendo até então, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve adotar, a partir de agora, uma postura de espectador para evitar ser contaminado com o desgaste.

A avaliação no núcleo do governo é que é extremamente perigoso colar o destino de Renan ao Planalto. A ordem é deixar decantar a crise, para saber que força política vai prevalecer desse embate.

Nas palavras de um ministro próximo ao presidente Lula, a determinação é "pagar para ver". Lula chegou a dizer em conversas reservadas que não vai hostilizar Renan, mas que também não mais assumirá a defesa pública do aliado.

Para Planalto, situação de Renan se agravou

A percepção no Planalto é de que nos últimos dias a situação de Renan se agravou. A articulação política do governo também já detectou que o alagoano já não tem seu maior trunfo do passado, que era um bom diálogo com a oposição. Isso ficou claro semana passada, no embate em plenário de Renan com senadores de PSDB e DEM.

Por isso, o presidente vai adotar uma postura de neutralidade. A estratégia pragmática é baseada em dois fatores: Lula não quer ficar tão distante de Renan, para não se prejudicar no Senado caso o alagoano supere a crise; mas também não quer ficar tão próximo a ponto de comprometer um futuro diálogo com forças que possam assumir o comando do Congresso.

Lula sabe que, independentemente do resultado do embate político que está travando, Renan ainda tem controle da maioria dos votos do PMDB do Senado. Por isso, em qualquer circunstância, avalia um ministro, é preciso manter uma ponte com Renan. Mas, ao mesmo tempo, Lula não gostou do discurso do alagoano de tentar envolvê-lo diretamente na crise.

Em conversa com o próprio Lula e em entrevistas, Renan tem dito que o objetivo da oposição é atingir o Palácio do Planalto. O presidente do Senado chegou a dizer que a oposição tentou derrubar o governo petista, em 2005. E como não conseguiu, tem argumentado Renan, tucanos e democratas tentam atingi-lo com o objetivo de enfraquecer o Planalto. Essa tese do alagoano não agradou.

Mesa Diretora decide sobre retomada de perícia amanhã

No fim de semana, Renan consultou aliados para definir os próximos passos. Amanhã, a Mesa Diretora se reúne para decidir se encaminhará à Polícia Federal o pedido para retomar a perícia nos documentos do senador. O Conselho de Ética quer checar as operações de venda de gado, a evolução patrimonial e a autenticidade dos documentos apresentados por ele.

Renan enfrenta processo por quebra de decoro, depois de ser acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista. Para comprovar que tinha renda para arcar com uma pensão paga à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha, Renan apresentou recibos de venda de gado. Mas perícia da Polícia Federal encontrou divergências entre os documentos.

De acordo com aliados, Renan partiu para a estratégia do "tudo ou nada". O senador acha que já perdeu a batalha na opinião pública e com setores da oposição. Ele também avalia que tem poucas chances no Conselho de Ética. Por isso, decidiu ficar no cargo e jogar todas as suas fichas num corpo-a-corpo com os senadores para escapar da cassação no voto secreto do plenário.

Mesmo assim, a defesa do presidente do Senado analisa a possibilidade de barrar no Supremo Tribunal Federal uma nova investigação da Polícia Federal, numa estratégia para ganhar tempo. A alegação é que só o STF tem poder para autorizar esse tipo de investigação contra um senador.