Título: Cabral diz que houve armadilha; para Cesar, governador quer PAC
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 17/07/2007, O País, p. 3
Protesto contra Lula deixa governador e prefeito em campos opostos.
As vaias ao presidente Lula, no Maracanã, empurraram o governador Sérgio Cabral (PMDB) e o prefeito Cesar Maia (DEM) para lados opostos do campo. Cabral, que escoltou Lula durante a visita ao Rio, sustenta que o presidente foi vítima de uma armadilha. E Cesar devolve: para ele, o governador defende o presidente porque tem medo de o estado não receber verbas do PAC.
- Não tem armadilha montada no Maracanã que tire o amor do presidente pelo Rio de Janeiro - disse Cabral ontem.
- Os créditos do PAC ainda não saíram. Por isso ele (Cabral) está na defensiva - reagiu o prefeito, que disse ter identificado, no ensaio da cerimônia de abertura, vaias ao presidente dadas também por servidores do estado.
Cabral disse que as vaias surgiram da parte esquerda da tribuna reservada a autoridades:
- Um setor muito bem localizado, que depois contaminou uma outra parte. Tudo bem concatenado.
O governador disse não saber quem estaria por trás da manifestação e defendeu Lula, com quem teria falado por telefone, ontem de manhã.
- Quem foi, eu não sei. No mesmo dia, o presidente foi bem recebido pela população nas ruas da Tijuca e na Vila do Pan. Onde andamos, todo mundo bateu palmas para o presidente. Achei muito estranho - disse Cabral. Para ele, o presidente ajudou o evento "pensando no Brasil".
Para o prefeito, a atitude do presidente diante das vaias causou mais estragos do que a manifestação em si:
- O problema maior não foram as vaias. Estas, o tempo e o vento levam. O pior foi a saída do presidente durante parte do desfile dos países com suas bandeiras, sem se encontrar com os presidentes do Panamá e Antilhas, e a não declaração de abertura. O efeito internacional foi devastador.
Presidente do COB diz que vaias foram injustas
Cesar também desdenhou a relação entre Cabral e Lula. Em seu blog, ele disse que o presidente apelou a Cabral para conquistar o Rio - "onde sua avaliação é a pior do Brasil". Reservou verbas, autorizou transferências e veio à cidade com intervalos semanais. "Só que são lógicas opostas muitas vezes. O governador - que deveria ter o papel principal - foi tratado como coadjuvante. Resultado: a produtividade política foi nenhuma", escreveu Cesar.
Munido de um vocabulário rebuscado e recheado de ironias, o prefeito traçou ainda, em seu blog, um diagnóstico para os erros que, para ele, criaram no presidente uma falsa impressão de popularidade. Para o prefeito, Lula está sempre protegido por uma blindagem feita por seus assessores. "A assessoria de Lula (...) usa "claques de aluguel". Isso dá ao líder a falsa impressão de popularidade. E o mais grave: a cobertura da imprensa coonesta (faz parecer honesta) as imagens e esta sensação, que se transforma em popularidade de pesquisa, sem lastro", teorizou.
O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do CO-Rio, Carlos Arthur Nuzman, divulgou nota ontem chamando de injustas as vaias:
"O empenho pessoal do presidente Lula foi fundamental para viabilizar a realização do grande espetáculo que foi a cerimônia de abertura e dos Jogos. Por isso, os muitos elogios que estamos recebendo de todas as partes do Brasil e do mundo à cerimônia devem ser estendidos ao presidente Lula", diz a nota, acrescentando mais adiante: "Eventos esportivos celebram a união de raças, religiões, ideologias e a paz entre os povos. Estamos solidários ao presidente Lula, a quem reiteramos os nossos profundos agradecimentos".