Título: Para oposição, vaias pedagógicas; já para os governistas, imerecidas
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 17/07/2007, O País, p. 3
Foi um choque de realidade para ele e seus áulicos", diz Roberto Freire.
BRASÍLIA. No Congresso, aliados do Planalto classificaram de ingratas e imerecidas as vaias ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura dos Jogos Pan-Americanos, no Maracanã. Já para a oposição, o presidente estava, na verdade, mal acostumado com platéias sempre favoráveis a seu governo, formadas por beneficiários de programas sociais como o Bolsa Família, por exemplo. E, por isso, Lula não assimilou bem as vaias.
- O presidente tem razão de ficar chateado. As vaias mostram uma certa ingratidão. O Pan conta com a Força Nacional de Segurança Pública, há recursos federais (nas obras). Mas também não considero um demonstrativo, porque o ingresso era muito caro, de uma parcela que se sabe que é historicamente suscetível ao PSOL ou à direita - disse o vice-líder do PT na Câmara, Maurício Rands (PE).
Para o líder do PDT na Câmara, Miro Teixeira (RJ), que esteve no Maracanã, o fato deve ser analisado pelo presidente. Segundo Miro, as vaias partiram de uma parcela do estádio que, logo depois, aplaudiu o prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM). Miro ressaltou que, depois, houve uma generalização dos protestos e, por isso, Lula deve analisar o que ocorreu realmente:
- Foi desagradável, e era tão inimaginável que surpreendeu. Mas não é nenhuma tragédia ser vaiado no Maracanã. Nelson Rodrigues já dizia isso. A melhor coisa é não negar o que se passou, analisar e olhar com seriedade. Começou articuladamente, mas evoluiu. É precário dizer quem articulou. Pode-se dizer é que aplaudiram Cesar Maia.
"É uma manifestação democrática", diz Berzoini
Para o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), Lula deve encarar democraticamente as vaias.
- É uma manifestação democrática, a que todo político está sujeito. É parte da democracia - disse Berzoini.
Na oposição, a opinião comum é que as vaias foram um "choque de realidade" para Lula. Aliados de Cesar rebateram a acusação de que o grupo que iniciou as vaias era ligado a ele.
- O presidente está muito mal acostumado, porque tem sido bajulado demais. A platéia do Pan era de classe média, e a classe média brasileira não tem muita razão para aplaudi-lo - disse o líder do PSDB na Câmara, Antonio Carlos Pannunzio.
- Se Lula achava que não tinha oposição, além da do Congresso, encontrou um estádio cheio - acrescentou o líder da Minoria, Júlio Redecker (PSDB-RS).
O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), disse que as vaias foram espontâneas. Ele afirmou que a maior parte dos ingressos foi comprada inclusive pela CEF e pela Petrobras, que são do governo federal:
- Eles (o governo) não estão acostumados a eventos onde a manifestação é livre. São ridículas as especulações de que foi orquestrado. Se uma pessoa pudesse controlar 80 mil pessoas, ela não seria prefeita, e sim presidente da República. Vaia para um homem público deve ser motivo de reflexão, não de ressentimento.
Para o senador Heráclito Fortes (DEM-PI), Lula foi "fraco ao não abrir o Pan":
- O grito do Maracanã pode ser pedagógico, se os puxa-sacos permitirem. O abatimento demonstrado e a sofreguidão da sua equipe em minimizar o fato são nocivos ao presidente.
- Foi um choque de realidade para ele, seus áulicos e aqueles que vivem num mundo ilusório de euforia - disse o presidente do PPS, Roberto Freire.
COLABORARAM Luiza Damé e Chico de Gois