Título: Presidente do PT sai em defesa de Renan
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 17/07/2007, O País, p. 8

Berzoini diz não aceitar "linchamento político"; integrantes da Mesa Diretora tentam evitar novas manobras.

BRASÍLIA. O desgaste da imagem do Senado deve levar a Mesa Diretora a autorizar hoje o Conselho de Ética a encaminhar à Polícia Federal pedido para retomar a perícia nos documentos de defesa do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ontem, houve forte reação preventiva dos integrantes da Mesa diante da possibilidade de algum senador fazer um pedido de vista e adiar para agosto a decisão, numa manobra para ajudar Renan a ganhar tempo.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP), saiu em defesa de Renan. Disse que o senador não pode ser julgado sem que as investigações sejam concluídas e que ele não deve ser pressionado a deixar o comando do Senado:

- Não aceitamos linchamento público nem constrangimento para forçar o presidente Renan Calheiros a se licenciar ou renunciar.

Indagado se o partido daria alguma orientação ao petista Tião Viana (AC), que presidirá hoje a reunião da Mesa, Berzoini afirmou:

- Não há razão para o PT se posicionar do ponto de vista partidário. Nunca houve qualquer cobrança do senador Renan. Todas as vezes em que conversei com ele, nesse período, foi uma conversa tranqüila.

Renan ligou para colegas para negar que estivesse articulando uma manobra. Avisou que não recorreria ao Supremo Tribunal Federal para barrar a investigação. Os relatores do processo por quebra de decoro querem checar as operações de venda de gado, sua evolução patrimonial e a autenticidade dos documentos apresentados como prova de que tem renda suficiente para bancar suas despesas pessoais. Renan é acusado de ter gastos pagos por um lobista da empreiteira Mendes Júnior.

- O Renan me telefonou e negou que tenha feito manobra para protelar. Não vejo disposição de ninguém da Mesa de pedir vista para atrasar os trabalhos. Não há mais ambiente para isso. A imagem do Senado está muito ruim. Se depender da Mesa, o Conselho terá autorização para prosseguir as investigações - disse o terceiro-secretário, César Borges (DEM-BA).

O senador Magno Malta (PR-ES), quarto-secretário da Mesa, afirmou que não fará pedido de vista e negou Renan tenha lhe feito essa solicitação, num telefonema, como foi publicado:

- Nunca recebi um telefonema do presidente do Senado nem me prestaria a isso.

Papaléo Paes (PSDB-AP), suplente da Mesa do Senado, criticou a possibilidade de algum integrante do grupo pedir vista:

- Se alguém fizer isso, será uma trapalhada muito grande e prejudicial à imagem da Casa.

"Se alguém pedir vista, será por orientação do Planalto"

Em discurso na tribuna, o líder do Democratas, Agripino Maia (RN), também reagiu:

- Se alguém vier a pedir vista, seria para procrastinar. Seria muito ruim para a instituição. O plenário estará vigilante. Se alguém pedir vista, será por orientação do Planalto.

O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), alertou para a possibilidade de erro na decisão da Mesa de autorizar a perícia da PF. Ele argumentou que só o STF tem poder para autorizar esse tipo de investigação contra um senador:

- É preciso respeitar os procedimentos legais para que no futuro não haja questionamentos jurídicos.

Causaram constrangimento a Renan declarações do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) revelando detalhes de uma conversa de ambos. Cristovam disse que foi procurado por Renan e que por isso foi até a residência oficial, no sábado. Segundo Cristovam, Renan admitiu que teria sido melhor se afastar da presidência para se defender.

- Hoje, o Renan já diz que talvez teria sido um erro não se afastar da presidência, mas admite que se sair agora, seria entregar os pontos - contou.

Ao saber das declarações do colega, Renan ligou para Cristovam e disse que ele entendera mal. Avisou que sua disposição era de enfrentar todo o processo, pois tinha certeza que conseguiria explicar as denúncias. Questionado por jornalista, Renan evitou polemizar:

- Se (Cristovam) falou por mim, não vale!

Para diminuir cobranças de que estaria usando o cargo para protelar a investigação, Renan enviou ontem ofício ao presidente do Conselho, Leomar Quintanilha (PMDB-TO), em que solicita que qualquer "correspondência" sobre o caso seja entregue a Tião Viana. Renan se declara impedido de despachar sobre assuntos referentes ao processo.

COLABOROU Ilimar Franco