Título: Brasil é o terceiro país em crimes cibernéticos
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 17/07/2007, Economia, p. 22

Brasileiros já respondem por 14,2% dos ataques na internet, ficando atrás apenas de americanos e chineses

WASHINGTON. Houve um considerável aumento de ataques via internet em 2006. Em suas artimanhas ao longo do ano passado, criminosos cibernéticos utilizaram nada menos do que 207.684 programas maliciosos de computador - conhecidos no jargão da internet como malware -, sendo que 41.536 deles eram novos. E o Brasil foi uma das principais fontes dessas armas: nada menos do que 14,2% do software usado de forma nociva na rede mundial de computadores foram criados e produzidos por brasileiros.

Com isso, o Brasil se tornou o terceiro maior disseminador de malware do mundo. Fica atrás apenas dos Estados Unidos (35%) e da China (30%). Logo abaixo do Brasil, no ranking que acaba de ser produzido pela Sophos - uma empresa de segurança de informática com sede em Massachusetts - está a Rússia, com um índice bem menor: 4,1%.

Apesar disso, piratas cibernéticos brasileiros e russos têm algo em comum: a maioria dos programas maliciosos produzidos por eles tem como objetivo o roubo de identidades e senhas de pessoas e empresas que realizam transações bancárias online. Essas informações são vendidas a terceiros, que aplicam golpes na praça - geralmente zerando o saldo de suas vítimas, através de transferências bancárias eletrônicas fraudulentas.

País gera 3% do lixo eletrônico mundial

O movimento do dinheiro é feito de forma legal, mas utilizando meios ilegais: o roubo da identidade.

- A maioria dos códigos maliciosos produzidos no Brasil tem a forma de trojans, criados para roubar senhas bancárias através da inserção de campos de senhas falsos, nos sites de bancos - disse Ron O"Brien, analista senior da Sophos.

Trojans são programas que parecem úteis, mas contêm um código daninho, que captura senhas e, geralmente, é destinado a roubar informações pessoais e comerciais. As vítimas escrevem o número de sua conta e sua senha nos espaços falsos criados pelos trojans e perdem o controle de sua conta:

- Essa tática deriva, em parte, do número relativamente pequeno de bancos no Brasil. Isso torna mais fácil, com maior probabilidade, supor, adivinhar, o tipo de conta que possui uma vítima potencial - completou O"Brien.

Além de ser o terceiro no mundo em volume de produção de programas nefastos de computador, o Brasil ocupa o sétimo lugar como fonte de transmissão de spam (lixo eletrônico), gerando o equivalente a 3% do material espalhado através da internet em todo o planeta.

Segundo o estudo da Sophos, os piratas cibernéticos estão se tornando a cada dia mais sofisticados, dificultando com mais eficácia o mapeamento das impressões digitais dos criminosos do setor. Agora é mais fácil confundir as vítimas com eles - pois os piratas se apoderam dos computadores delas, sem que as mesmas percebam, e, através das máquinas, transmitem programas maliciosos para uma imensa rede.

"O motivo é que a arma utilizada pelos fraudadores é um malware infeccioso, capaz de transformar um website inofensivo numa ferramenta para o roubo de dados ou para recrutar um PC (computador pessoal) vulnerável num exército criminoso de máquinas zumbis (computadores contaminados) que emitem spam. Tentar seguir spam ou malware até a sua fonte freqüentemente acaba revelando apenas uma outra camada de websites e computadores contaminados espalhados através do mundo", conclui a Sophos.

Sistema que contamina servidores se utiliza de chats

O sistema mais utilizado atualmente é o dos chamados botnets, uma coleção de software robôs que se executam de maneira autônoma. Trata-se, normalmente, de um vírus que corre num servidor infeccionado e com a capacidade de contaminar outros servidores. Quem constrói um desses robôs é capaz de controlar todos os computadores contaminados por controle remoto - e isso se dá, em geral, através dos chats.