Título: 'As pessoas se jogavam do prédio e gritavam de desespero no fogo'
Autor: Freire, Flávio e Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 18/07/2007, O País, p. 3

Funcionários do edifício da TAM relatam o pavor para fugir das chamas.

SÃO PAULO E PORTO ALEGRE. O pânico tomou conta do prédio da TAM Express, na Avenida Washington Luís, atingido pelo Airbus da TAM, com 176 pessoas a bordo. Quando o prédio começou a pegar fogo, por volta das 19h, José Roberto, um dos funcionários da TAM que estavam no interior do prédio, pulou do segundo andar para o térreo, para fugir do fogo.

- Muita gente começou a pular do segundo andar. Os que já estavam a salvo seguravam os que pulavam - disse José Roberto, um dos funcionários da TAM Express.

Ele estava batendo o cartão de ponto para deixar o trabalho. Com o impacto do avião no prédio, tudo tremeu.

- As pessoas se jogavam, gritavam de desespero no fogo. Um amigo meu, o Ubirajara, não conseguiu sair a tempo, e uma das paredes caiu sobre ele. Tentamos puxá-lo, mas não conseguimos. Mas os bombeiros chegaram em seguida e o retiraram. Levaram para o hospital, mas não sei se está vivo ou não - disse José Roberto.

Por volta das 21h, centenas de parentes dos funcionários do prédio começaram a chegar ao local. O desespero e a falta de informação tomavam conta de todos.

O comandante do Corpo de Bombeiros, capitão Mauro Lopes, porta-voz da operação, que envolveu 150 bombeiros e 52 veículos, fez um balanço do acidente por volta das 21h.

- Até agora, retiramos 13 pessoas do local, dos quais 12 vivos e um morto. Três foram levados para o Hospital São Paulo, sete para o Hospital do Jabaquara, um para o Hospital Santa Paula, um para o Hospital Vergueiro e um chegou morto ao Hospital Dante Pazanezzi - disse o capitão.

No aeroporto em Porto Alegre, falta de informações

Já em Porto Alegre, assim que o acidente foi confirmado, familiares dos passageiros que estavam no vôo 3054 da TAM começaram a chegar ao aeroporto Salgado Filho, protagonizando cenas de pavor e desespero. Três horas depois do acidente, os funcionários da empresa aérea informavam apenas que a TAM estava prestando informações pelo telefone 0800 117900. Muitos foram levados para uma sala no Centro de Operação Aeroportuária, no 3º andar. Outros se concentravam em frente ao guichê da companhia. Houve tumulto no local e a sala da Infraero foi invadida. A Polícia Militar foi obrigada a reforçar a segurança no aeroporto.

O sentimento comum era o de que, não bastasse a possibilidade da morte de parentes, a falta de informações e o despreparo dos funcionários da companhia e a Infraero para esse tipo de situação eram evidentes.

Diante do balcão da TAM, um dos mais revoltados era Getúlio Luz, cujo genro, João Roberto Brito, diretor do SBT local, estaria no vôo.

- Que tratamento é este que dão para nós, que estamos numa situação de desespero? Por que a divulgação vai ser feita por São Paulo, se vocês fazem o check-in aqui?

Já Gisele Machado, que procurava informações sobre o pai, aos prantos, reclamava que, pior que a dor da possível perda, era a angústia e a falta de informações.

Outro que estava inconformado era Roberto Gomes. Desesperado, ficou ligando para os dois celulares da filha sem obter resposta. Ele discutiu asperamente com funcionários:

- O que muda para vocês essa confirmação dos nomes sair agora?