Título: 'Pista estava lisa como sabão', acusam pilotos
Autor: Freire, Flávio e Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 18/07/2007, O País, p. 3

Comandante da TAM culpa Infraero e Anac por liberar Congonhas sem ranhuras; estatal diz que esperava testes.

BRASÍLIA. Um piloto da TAM, ouvido pela Rádio CBN, acredita que a causa do acidente teria sido a falta do grooving, sistema de ranhuras que facilita o escoamento de água na pista e aumenta a aderência dos pneus durante o pouso em caso de chuva. Ele responsabiliza a Infraero e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que concordaram com a liberação da pista sem o sistema de segurança. A pista foi reaberta em 26 de junho, após 45 dias de reforma.

- Durante os pousos com muita chuva, é como dirigir um carro e sentir a derrapagem na estrada. O grooving não é um pré-requisito, mas é um item de segurança - disse o piloto, que preferiu não se identificar.

O presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aéreos, Uébio José da Silva, disse que recebeu reclamações de pilotos sobre a pista principal de Congonhas. Segundo o sindicalista, pilotos disseram que a pista não apresentava condições de pouso e "estava lisa como sabão".

A pista principal do Aeroporto de Congonhas foi liberada sem o grooving. A decisão de reabrir a pista antes da conclusão da obra foi tomada pela Infraero e pela Anac. Anteontem, uma aeronave da empresa Pantanal também derrapou na pista, mas sem deixar vítimas.

Segundo o assessor de Segurança de Vôo e Políticas Internacionais do Sindicato dos Aeronautas, Célio Eugênio, o grooving torna os pousos mais seguros. Mas acha prematuro atribuir o acidente à falta do sistema:

- Ainda é cedo para dizer que essa foi a causa. Várias aeronaves pousaram sem problemas ontem em Congonhas.

Aeroporto fechou várias vezes

A Infraero decidiu fechar a pista principal depois que vários aviões derraparam em Congonhas devido ao acúmulo de água na pista. Por questões de segurança, o aeroporto foi fechado várias vezes - com atrasos em cascata em todo o país - para que uma equipe da Infraero pudesse aspirar a água.

Segundo a Infraero, durante a obra, que começou no dia 14 de maio, toda a extensão da pista foi recuperada, com correção das declividades e substituição das camadas antigas e gastas por asfalto novo. Nesse período, as empresas passaram a usar com restrições a pista auxiliar e o número de vôos foi reduzido.

A assessoria de imprensa da estatal informou que o grooving só poderia ser feito 30 dias após a conclusão das obras, para evitar danos ao asfalto e outros problemas. A Infraero informou ainda que testes de laboratório precisam comprovar que o pavimento está curado. A reforma custou cerca de R$30 milhões.

Não são poucos os casos de aviões que derraparam em Congonhas nos últimos anos. Em março do ano passado, um avião da BRA com 115 passageiros derrapou e acabou no canteiro final de Congonhas, às margens da Avenida dos Bandeirantes, no lado oposto de onde ocorreu o acidente de ontem. Em 6 de outubro de 2006, um Boeing 737-300 da Gol, que saiu de Cuiabá, só parou ao atingir o fim da pista, já em trecho de grama. A aeronave ficou atravessada, impedindo pousos e decolagens por cerca de uma hora.

No dia 17 de janeiro deste ano, um avião da Varig, que fazia a ponte aérea Rio-São Paulo, derrapou, fechando o aeroporto por 50 minutos. Segundo a empresa, uma lâmina d"água na pista obrigou o piloto a frear bruscamente. Na ocasião, a Anac informou que foi a terceira vez que a aeronave usada pela Varig na ponte aérea derrapara na pista em pouco mais de 30 dias.

Com Rádio CBN. Colaborou: Alan Gripp