Título: Lula defende reformas e critica quem se opõe
Autor: Damé, Luiza e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 18/07/2007, O País, p. 12

Para presidente, empresários querem rasgar a CLT e sindicalistas desejam mantê-la e ainda "colocar mais coisas".

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistiu ontem na necessidade das reformas política, trabalhista, previdenciária e tributária, mas reconheceu a dificuldade de aprovação dessas mudanças no Congresso. Num momento em que o governo propõe a flexibilização dos critérios de contratação de servidores, Lula disse que os empresários e os sindicalistas precisam perder o medo e se entender para fazer a reforma trabalhista, atualizando a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Mas, para o presidente, sem a reforma política, as outras não serão aprovadas.

- A reforma trabalhista, obviamente, se continuar do jeito que está, de um lado um grupo de empresários achando que é preciso rasgar a CLT e fazer tudo novo, de outro lado os dirigentes sindicais achando que têm que manter a CLT e colocar mais coisas, não dá acordo - disse Lula, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), integrado por empresários e sindicalistas.

O presidente afirmou que o debate da reforma trabalhista começou de forma equivocada, com medo, e, por isso, a proposta não avança. O ex-sindicalista disse que os atuais líderes sindicais precisam acompanhar as mudanças no mercado de trabalho, como o crescimento do setor de serviços, a necessidade de empregar jovens, os avanços tecnológicos e o número de pessoas na informalidade.

- Não é possível que Getúlio Vargas tenha tido a onipotência de Deus de, em 1940, fazer uma lei que prevaleça no mundo do trabalho de hoje na sua totalidade. Muitas coisas podem ser aperfeiçoadas em função da realidade, sobretudo, do surgimento de uma coisa chamada setor de serviços - disse.

O decreto-lei de Getúlio implantando a CLT é de 1º de maio de 1943:

- Não temos por que ter medo de discutir qualquer que seja a reforma. Nós temos agora um fórum que está discutindo a reforma da Previdência. Eu não sei o que vai sair de lá, mas vai sair alguma coisa.

Lula compara reforma política a quebra-cabeças

No discurso, o presidente reconheceu que a reforma política é de difícil montagem e chegou a compará-la a um quebra-cabeças. Mas colocou-a como condição para a aprovação das reformas tributária, trabalhista e previdenciária.

- Eu acho que a reforma política é imprescindível para que a gente possa arrumar este país, é imprescindível porque precisamos acabar um pouco com a hipocrisia neste país - disse Lula. - Sem a reforma política, as outras sempre ficam mais difíceis. A reforma política é o começo para mudar este país.

No discurso, o presidente voltou a dizer que a reforma política é um assunto do Congresso e dos partidos políticos, mas que a sociedade tem de participar do debate. Afirmou ainda que, como presidente, muitas vezes não pode dizer tudo que pensa. O presidente defendeu mudanças no financiamento das campanhas, na representação dos estados e no tempo dos mandatos.

- Pelo Brasil inteiro, está cheio de empresários com bancada de deputados, com bancada de senadores, com bancada de vereadores, de prefeitos, porque a lógica política é assim, a lei permite. Então, se nós quisermos moralizar, precisamos ter coragem de discutir o financiamento público - disse Lula.