Título: Ao lado de Lula, Oded Grajew pede saída de Renan
Autor: Jungblut, Cristiane e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 18/07/2007, O País, p. 14

Ex-assessor da Presidência propõe discutir crise do Senado no CDES.

BRASÍLIA. A crise envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), entrou ontem na agenda do Palácio do Planalto de forma constrangedora. Durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-assessor especial da Presidência Oded Grajew pregou, em discurso, que o Conselho deveria se pronunciar sobre a questão e defendeu o afastamento de Renan da presidência. Falando em nome do Instituto Ethos de Cidadania no chamado "Conselhão", Grajew disse que, como representantes do empresariado e da classe política, seria inconcebível que eles não discutissem ali a crise.

Lula ficou visivelmente constrangido no momento em que o ex-assessor falava, mas não abordou o assunto depois.

- A gente não deve se furtar a essa posição. A curto prazo, deveríamos nos posicionar pelo afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado. A longo prazo, deveríamos propor ao governo medidas efetivas de combate à corrupção, um câncer que ameaça a nossa democracia. Não discutir a crise agora é discutir a cor da cortina da sala enquanto a sala pega fogo. A casa está pegando fogo e querem discutir a cor da cortina, se deveria ser azul, verde... - disse Grajew, diante de Lula e dos ministros Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) e Guido Mantega (Fazenda).

Nesse momento, Lula, contrariado, parou de sorrir e pôs os óculos. Depois, Grajew disse que não avisou a Lula e a ninguém que citaria o caso Renan, argumentando que "não precisava de permissão". Ele disse que vai procurar os conselheiros para buscar apoio à sua proposta e ressaltou que a reforma política não terá razão sem medidas para combater a corrupção. Os demais conselheiros não se manifestaram sobre a atitude de Grajew, apenas algumas palmas protocolares foram ouvidas ao final do seu discurso.

"Isso é fora das normas", diz Mares Guia

Sem citar o caso Renan em seu discurso, Lula também defendeu a reforma política como forma de "arrumar o país". Coube a Mares Guia refutar a proposta de Grajew, dizendo que o CDES é um órgão consultivo e não irá tratar do assunto.

- Isso está fora de nossas normas. Não temos condições de aprovar uma reforma tributária, quanto mais tirar uma pessoa de um determinado lugar. Isso ultrapassa nossas responsabilidades. O Conselho é um órgão informal criado pelo presidente Lula para ouvir a sociedade - disse Walfrido: - Do jeito que foi feito hoje, foi uma opinião isolada. Cada conselheiro tem o direito de opinar, é o livre arbítrio. Mas eficácia não tem e não colocaremos em votação.