Título: Corte de juros fará poupança render menos
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 18/07/2007, Economia, p. 27

BC decide nova Selic hoje. Analistas esperam mudança no cálculo da TR, e caderneta poderá ter ganho 4,7% menor.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decide hoje o novo patamar de juros básicos da economia, a Taxa Selic, atualmente em 12% ao ano. Se o Copom reduzir a Selic para 11,75% ou 11,5%, como é esperado por grande parte do mercado, o rendimento da caderneta de poupança poderá ser atingido em cheio. Analistas prevêem que, assim como fez em março, o governo deve mudar o cálculo da Taxa Referencial (TR, usada na remuneração da poupança).

Segundo estimativas do matemático José Dutra Sobrinho, se governo estabelecer um redutor da TR de 0,32%, o ganho mensal da poupança cairá 4,7%: dos atuais 0,64% ao mês para 0,61%. A simulação foi feita considerando uma taxa básica Selic de 11,5% ao ano. No caso de um corte menor da Selic, para 11,75% anuais, o ganho mensal da poupança cairia para 0,62%.

Brasil deve deixar de ser país com maior juro real

A mudança no rendimento da poupança será necessária porque, pelas regras atuais, o redutor de 0,32% vale para uma Taxa Básica Financeira (TBF, que é a média dos juros pagos por CDBs de grandes bancos) de 11% ao ano. A TR é calculada com base na TBF, aplicando-se o redutor. Na sexta-feira, a TBF estava em 11,17%. Com a diminuição na Selic, a TBF deve cair para 10,8% ao ano, segundo Sobrinho. E não foi estabelecido qual seria o redutor para uma TBF inferior a 11%.

- A TBF já vem sofrendo influência do mercado, que aposta numa nova queda na Selic. Com os juros básicos caindo 0,25 ou meio ponto percentual, a TBF ficará abaixo dos 11% - afirma Sobrinho.

O matemático fez as simulações considerando que o governo adotaria o redutor de 0,32% - hoje usado quando a TBF fica entre 11% e 13%. Mas analistas do mercado já prevêem um aumento neste redutor, o que corroeria ainda mais os ganhos da poupança. Nesse caso, também seria reduzida a remuneração do FGTS, que, assim como a caderneta, é corrigido pela TR. Os mutuários, porém, teriam um alívio nas prestações: a TR é referência para muitos contratos de financiamento imobiliário.

O Banco Central não quis comentar sobre mudanças na TR. Mas, desde março, as alterações podem ser feitas diretamente pelo BC, sem necessidade de autorização do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Caso se confirme uma redução da Selic, o Brasil deixará de liderar o ranking dos países com maiores juros reais (descontada a inflação) do mundo. Segundo Jason Freitas Vieira, economista-chefe da UpTrend, se o corte na Selic for de 0,25 ponto percentual, o juro real no país passará dos atuais 8,3% para 8%. Atrás, portanto, da Turquia, com 8,2% anuais. Se a redução da Selic for de meio ponto percentual, o juro real fica em 7,5%.

- Ainda é muito pouco. Estamos longe do terceiro colocado, Israel, com juro real de 4,6% ao ano - diz Vieira.

Ontem, o dia foi de otimismo no mercado acionário, apesar da cautela em torno da decisão do Copom. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou o 31º recorde do ano, ao fechar em 57.659 pontos, com alta de 0,5%. O dólar caiu 0,58%, para R$1,86, a menor cotação desde outubro de 2000. O BC ainda entrou no mercado comprando, segundo estimativas, cerca de US$500 milhões, mas não conseguiu segurar a queda no dólar. O risco-Brasil subiu 1,28%, para 158 pontos centesimais.

COLABOROU Patrícia Duarte