Título: Lula pede a empresários paciência com dólar
Autor: Beck, Martha e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 18/07/2007, Economia, p. 27

Presidente descarta medidas intempestivas no câmbio e diz que Mantega hoje "tem mais juízo".

BRASÍLIA. Apesar das pressões do setor exportador para que o governo adote medidas que contenham a valorização do real em relação ao dólar, o presidente Lula descartou ontem mudanças na política econômica. Ele pediu que os empresários tenham paciência até que a cotação da moeda americana se acomode, porque o governo não adotará medidas intempestivas que depois possam pôr em risco o equilíbrio da economia.

- Com essa entrada de dólares, o Banco Central pode comprar, pode comprar e nós vamos ter que aguardar, com muita paciência, que o dólar se acomode. É assim, e não peçam para fazer nenhuma medida intempestiva, porque o equilíbrio e a maturidade é o que podem garantir o Brasil - disse o presidente ao Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), composto, em parte, por empresários.

"Não vamos rasgar nota de R$100", afirma presidente

Lula afirmou que a entrada de moeda no país é forte, devido ao desempenho das exportações. Ele acrescentou que o dólar está se desvalorizando no mundo todo. E descartou mudanças de rota na política econômica:

- Por mais que a situação esteja tranqüila, não vamos rasgar nota de R$100, não vamos dar nenhum passo que possa significar, amanhã, um tropeço maior para a gente quebrar a cara e ter que voltar atrás. A volta atrás é muito pior.

O presidente descartou mágicas, para evitar uma "cacetada na cabeça":

- Se as coisas estão certas até agora, se estamos tão perto de atingir tudo aquilo que a gente queria atingir, crescimento acima de 5%, juros em padrões internacionais, por que a gente tem que se precipitar? Por que tem que mudar e tentar dar um rompante, fazer aquela mágica em que, depois, não aparece nenhum coelho? Aparece uma cacetada na nossa cabeça. Os juros reais estão em 8%, e podemos chegar a muito menos. Mas só se a gente não tomar um pacote de comprimido de uma vez.

O presidente utilizou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como exemplo da evolução de seu governo. Lula lembrou que Mantega já passou por diversos postos na atual administração - foi ministro do Planejamento e presidente do BNDES - e que hoje "tem mais juízo":

- Eu já tive o Guido em três posições diferentes no governo: ministro do Planejamento, era um cidadão; presidente do BNDES, era uma outra figura importante; ministro da Fazenda, mais juízo, mais responsabilidade. Por quê? Porque é menos discurso e mais prática. Em determinados cargos, a gente não diz aquilo que pensa nunca, a gente faz quando pode, e se não pode, a gente deixa como está para ver como é que fica.

Afinado com o presidente na questão do câmbio, Mantega reafirmou que não haverá artificialismos.

- O governo não vai lutar contra a corrente, não vai fazer nenhuma besteira. É cabeça fria, porque, de resto, a economia brasileira está indo muito bem.

Segundo ele, parte dos dólares que entram no Brasil vai para investimentos na produção e para aplicação na bolsa, mas não se trata de especulação. Isso acaba valorizando o câmbio, mas, segundo Mantega, não causa nervosismo que possa levar o governo a adotar medidas como o controle de capitais.

Mantega diz que dólar não derrubou setor industrial

O mercado vem especulando que o governo poderia adotar medidas como o aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para desestimular a entrada de capital especulativo. Mantega, porém, descartou a idéia.

O ministro disse que o Brasil não está sob o risco da doença holandesa, fenômeno pelo qual uma situação cambial fortalece a comercialização de commodities, mas enfraquece a indústria de um país. Ele afirmou que a indústria de transformação cresceu 2,8% em 2006 e agora cresce a um ritmo de 5%, contrariando a previsão de que a queda do dólar derrubaria o setor.