Título: 'Só sairemos quando encontrarmos o último corpo'
Autor: Freire, Flávio e Barbosa, Adauri Antunes
Fonte: O Globo, 19/07/2007, O País, p. 3

NILTON MIRANDA, capitão bombeiro.

SÃO PAULO. O capitão Nilton Miranda, há 17 anos no Corpo de Bombeiros, já estava ontem à noite há 12 horas no desgastante trabalho de resgaste das vítimas do acidente da TAM. Mas, sem esperanças de concluir o trabalho até o final do turno de 24 horas, assegurava: "Vou continuar aqui até o meu corpo pedir para parar. Só sairemos quando encontrarmos o último corpo".

Maiá Menezes

Qual a sensação que o senhor teve ao chegar ao local do acidente?

NILTON MIRANDA: Cheguei às 7h da manhã (de ontem) e tive uma sensação de estar diante de uma grande emergência, mas uma emergência diferente das que estamos acostumados. Ficamos diante de acidentes de automóvel, por isso foi diferente o acidente da aeronave, por causa do tamanho e do número de vítimas. Mas o nosso treinamento permite que encaremos este tipo de situação como mais uma emergência.

O senhor está preparado para trabalhar por quantas horas aqui?

MIRANDA: Vou continuar aqui até o meu corpo pedir para parar. Só sairemos quando encontrarmos o último corpo. O nosso turno é de 24 horas, e o sistema de turno permite que consigamos ficar aqui em revezamento por 20, 30 dias, se necessário.

Mesmo com a preparação técnica, o senhor viu homens se emocionarem neste cenário.

MIRANDA: As pessoas relacionam o fato com algo que aconteceu em suas vidas, mas na grande maioria deles aflora a técnica, o que nos garante a eficácia no trabalho.

Houve homens feridos na operação?

MIRANDA: Um se machucou no ombro, foi atendido na ambulância e voltou a trabalhar.

Depois de 24 horas trabalhando, como será o seu dia de folga?

MIRANDA: Quando você treina, se condiciona. E isso faz com que o peso do trabalho diminua. Mas, na hora da folga, o importante é estar com as pessoas de que a gente gosta.