Título: Mantendo o ritmo
Autor: Duarte, Patrícia e Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 19/07/2007, Economia, p. 29

Dividido, BC reduz juro em meio ponto, para 11,5%. Brasil deixa de ter maior taxa real.

Em decisão bastante apertada, o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu ontem a taxa básica de juros do país (Selic) em meio ponto percentual, de 12% para 11,5% ao ano. Foi o 17º corte seguido, o que levou a Selic a um recorde de baixa. O Copom manteve o ritmo da última reunião, em junho, quando também reduziu a Selic em meio ponto percentual. Porém, dessa vez, a diferença de opiniões na diretoria do BC foi mais acirrada, com quatro votos a favor e três contra - estes preferiam um corte menor, de 0,25 ponto percentual. Na reunião anterior, o placar fora de cinco a dois.

Com a divisão na diretoria do BC, as apostas do mercado agora são de que, daqui para frente, os juros serão reduzidos a um ritmo mais lento.

- Nas próximas reuniões (do Copom), devem vir cortes de 0,25 ponto percentual, com a Selic fechando o ano a 10,75% - prevê o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

A próxima decisão do Copom sobre juros será em 5 de setembro. O BC começou a reduzir a Selic em setembro de 2005 e, de lá para cá, os cortes já somam 8,25 pontos percentuais. Com a redução de ontem, o Brasil deixa de ocupar a primeira posição na lista de países com maiores juros reais (descontada a inflação) do mundo. A taxa real brasileira recuou de 8,9% para 7,7% ao ano.

Real valorizado permitiu redução

Mas, daqui para frente, a expectativa dos analistas é de cortes menores nos juros, avalia Ivo Chermont, economista da Modal Asset:

- Se o placar (da decisão do Copom) fosse de cinco a dois, aumentariam as apostas de outros cortes de meio ponto na próxima reunião.

Para o economista-chefe da corretora Concórdia, Elson Teles, a contínua apreciação do real, graças às condições favoráveis de financiamento externo do país, deram respaldo para que o Copom reduzisse novamente os juros. Teles destaca que o setor externo está tendo uma contribuição maior do que a esperada no controle da inflação - o dólar baixo segura os preços.

Recentemente, porém, os alimentos têm pressionado a inflação.

- Apesar de os preços estarem subindo um pouco mais, o câmbio e a importação firme continuam amenizando as pressões - analisa Rosa, da Sul América Investimentos.

Mesmo diante de uma inflação ligeiramente mais alta, Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments, acredita que o BC continuará reduzindo os juros básicos da economia em meio ponto percentual nos próximos meses. Ela explica que é preciso manter a economia aquecida, para evitar restrições de oferta.

- A pressão altista que vem sendo exercida por um grupo de alimentos e a melhora de indicadores como o desempenho industrial tendem a manter a inflação num patamar mais elevado do que as projeções iniciais feitas para 2007.

Para Edgar Pereira, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a decisão do BC foi um indicador importante para as empresas de que o crescimento na economia vai continuar no atual ritmo:

- Com isso, a indústria mantém seu cronograma de investimentos na economia. Esperamos que a Selic chegue a 10% até o fim deste ano.

Na avaliação de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a seqüência de cortes na taxa de juros demonstra uma intenção do governo em abandonar o conservadorismo, incentivando ainda mais o crescimento do país. Boris Tabacof, diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), ressalta que as decisões futuras do Copom serão influenciadas pelo crescimento da economia e, também pela trajetória do câmbio.

- Se o câmbio baixo é o canal com o qual a autoridade monetária conta para promover reduções da Selic, ações em direção contrária poderão criar ruídos que freiem a queda da taxa básica de juros. O dilema entre câmbio e juros está novamente colocado à mesa - diz Tabacof .

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aplaudiu a decisão do Copom, por considerar que o BC deu mais um passo para eliminar um dos grandes obstáculos ao desenvolvimento: o alto custo do investimento produtivo. A entidade, no entanto, reiterou a crítica de que as reformas estão andando num passo lento demais. As centrais sindicais, porém, criticam o que consideram excesso de cautela do BC. Para João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, o Copom precisa ser mais ousado.

O consumidor sentirá poucos efeitos imediatos da decisão do Copom. Na estimativa de Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac (associação que reúne executivos de finanças), a redução da Selic fará com que a taxa média de juros praticada por lojas, financeiras e bancos recue de 7,32% para 7,28% mensais. Miguel lembra que, entre setembro de 2005 e junho deste ano, os juros cobrados no varejo caíram apenas 5,44%, enquanto a taxa básica Selic registrou redução de 39,24%.

- A queda de juros, no entanto, tem um resultado indireto muito importante, que é a perda da rentabilidade dos títulos públicos. Com isso, as instituições financeiras serão obrigadas a aumentar as operações de crédito. A concorrência fica maior, o que pressiona para baixo as taxas de juros - disse Oliveira.

No mercado financeiro, o dia ontem foi de expectativa com a decisão do Copom. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em leve queda, de 0,18%, influenciada pelas declarações do presidente do banco central americano, Ben Bernanke, de que a economia dos EUA deverá crescer a um ritmo moderado. Já o dólar fechou com leve alta, de 0,05%, aos R$1,861, apesar de o BC ter comprado divisas do mercado. O risco-país subiu 0,63%, para 159 pontos. Os juros futuros fecharam praticamente estáveis: o contrato para janeiro de 2010 ficou em 10,6% ao ano.