Título: 'Eu não sou administrador do transporte aéreo'
Autor: Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 21/07/2007, O País, p. 8

Constrangido por ameaça de demissão, Waldir Pires se isenta de responsabilidade por crise.

BRASÍLIA. Com o cargo por um fio, o ministro da Defesa, Waldir Pires, participou ontem, visivelmente constrangido, da entrevista coletiva em que o governo anunciou o pacote de medidas para o setor aéreo. Pires leu um documento com as determinações do Conselho de Aviação Civil (Conac), do qual é presidente, mas coube à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) explicar os detalhes do plano. O ministro respondeu apenas a perguntas sobre a sua iminente demissão, afirmando que não é sua competência tratar de tráfego aéreo.

Perguntado se sentia-se confortável no cargo, sendo a principal autoridade da crise aérea, respondeu:

- Não é verdade. O ministro da Defesa não é administrador de tráfego aéreo, de transporte aéreo. Não é, não foi, não tem competência para isso. Façam o favor de ler a lei, eu não sou administrador do transporte aéreo.

Antes, o ministro foi confrontado com informações dos jornalistas de que sua saída do ministério é dada como certa no governo.

- O presidente me manterá no cargo enquanto tiver confiança no meu trabalho. Eu não posso falar pelo presidente, mas ele sabe do meu apreço por ele e por seu governo - disse Waldir Pires.

O ministro negou que esteja sofrendo pressão e fez uma defesa ardorosa do governo Lula. E, quando novamente indagado sobre sua possível demissão, respondeu:

- Isso não me atinge, não toca nem no meu humor.

Nelson Jobim e Celso Amorim recusam pasta

A troca no Ministério da Defesa pode não ser imediata, mas Lula já está convencido de que a permanência do ministro ficou insustentável. Agora procura alguém com perfil adequado para o posto. A grande dificuldade é achar alguém com capacidade de comando e que aceite o desafio de assumir um setor em crise. Nos últimos dois dias, três nomes foram cogitados no Palácio do Planalto, mas perderam força. O primeiro foi o vice-presidente José Alencar.

O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim também foi novamente lembrado, mas recusou de forma enfática convite feito recentemente por Lula. Outra opção seria o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, considerado um nome com autoridade. Mas, segundo fontes do Itamaraty, ele não tem interesse em trocar um trabalho na política externa do governo por uma área minada como a Defesa.

O nome do ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo (PCdoB-SP) também voltou a ser lembrado. Ele chegou a ser sondado em março, mas as conversas foram suspensas depois do motim dos controladores de vôo. Naquele momento, Lula resolveu suspender a mudança na Defesa para tentar dar uma saída honrosa ao amigo Waldir Pires.

Aldo e o ministro do Tribunal de Contas da União, Aroldo Cedraz, além dos ex-deputados Paulo Delgado (PT-MG) e Antonio Feijão (PSDB-AP), são nomes com boa aceitação nas Forças Armadas para a substituição de Pires. Segundo um interlocutor da Aeronáutica, tanto Aldo quanto os demais tem duas características importantes para ocupar o cargo: sabem fazer articulação política e têm trânsito nas Forças Armadas. Mas apenas Aldo tem chance de ser um candidato de Lula. Nem o petista Delgado teria essa condição.

Embora sejam oriundos de partidos da oposição, Cedraz e Feijão têm prestígio junto aos militares. São consideradas pessoas discretas e capazes de guardar segredo. Cedraz, antes de ser eleito ministro do TCU, era deputado pelo DEM e, em 2002, integrou a comissão que criou a Agência Nacional de Aviação Civil.

COLABOROU: Isabel Braga