Título: Lula reconhece 'dificuldades' no sistema aéreo
Autor: Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 21/07/2007, O País, p. 8

Em pronunciamento emocionado, presidente enumera medidas para aliviar o tráfego no Aeroporto de Congonhas.

BRASÍLIA. Depois de dez meses de caos nos aeroportos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu ontem dificuldades no sistema aéreo brasileiro. No seu 13ºpronunciamento à Nação, Lula disse que "o maior problema, hoje, é a excessiva concentração de vôos em Congonhas".

Criticado por não ter manifestado publicamente solidariedade às famílias das vítimas do acidente com o Airbus da TAM, Lula procurou fazer um pronunciamento emotivo, afirmando que pessoalmente sofre "como pai, como esposo e como presidente". Manteve o discurso corrente no governo de que Congonhas atende normas internacionais de segurança. E disse que isso já não basta.

- Nosso sistema aéreo, apesar dos investimentos que fizemos na expansão e na modernização de quase todos os aeroportos brasileiros, passa por dificuldades. E seu maior problema hoje é a excessiva concentração de vôos em Congonhas. E é isso que precisamos resolver imediatamente - disse Lula, procurando passar tranqüilidade. - O nível de segurança do nosso sistema aéreo é compatível com todos os padrões internacionais. Não podemos perder isso de vista.

"Congonhas deve ser um aeroporto regional", diz Lula

Em cinco minutos de discurso, o presidente enumerou cinco medidas que serão adotadas para o setor aéreo, especialmente para diminuir o movimento em Congonhas.

- Embora Congonhas atenda a todas as normas internacionais de segurança, isso não basta. Como o aeroporto foi cercado por todos os lados pela cidade de São Paulo, ele precisa obedecer a medidas de segurança ainda mais severas. Congonhas deve ser um aeroporto voltado para a aviação regional e ponte aérea. Não pode mais ser um ponto de distribuição de vôos, conexões e escalas, como vinha acontecendo. Essa missão na área de São Paulo deverá ser atribuída a Guarulhos e Viracopos.

O presidente manteve a linha adotada pelo Palácio do Planalto desde o acidente, na terça-feira: afastar do governo qualquer suposta vinculação com as causas da tragédia.

- Não se pode condenar ou absolver quem quer que seja com base em opiniões apressadas. Não se deve abandonar nenhuma linha de investigação por antecipação - disse Lula.

Com 72 horas de atraso, Lula se dirigiu às famílias das vítimas do acidente da TAM e procurou demonstrar solidariedade. O Palácio do Planalto relutou até anteontem em decidir por uma declaração pública do presidente. Alguns ministros consideravam que o episódio deveria ser tratado do ponto de vista técnico.

Outro argumento era de que Lula havia passado por uma cirurgia para retirada de terçol e estava com o olho roxo - o que já não era perceptível ontem, quando ele apareceu no vídeo maquiado. No entanto, fotos, imagens e histórias das vítimas provocaram uma mudança de comportamento.

Lula não fez qualquer referência que pudesse ter ligação com o comportamento do seu assessor especial Marco Aurélio Garcia, flagrado com gestos obscenos comemorando a versão de que o avião da TAM tinha problema técnico.

Depois de citar as investigações da Aeronáutica e da Polícia Federal, Lula afirmou que o governo fará uma apuração rigorosa das causas e disse que serão tomadas medidas de segurança necessárias para evitar novas tragédias.

- Da mesma forma que não podemos ficar impassíveis perante a dor e os riscos à segurança dos brasileiros, não podemos tomar atitudes precipitadas - afirmou.