Título: Em nota, na última linha, petista pede desculpa
Autor: Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 21/07/2007, O País, p. 8

Assessor especial da Presidência vai ter que explicar gesto obsceno na Comissão de Ética.

BRASÍLIA. Um dia depois de ser flagrado fazendo gesto obsceno ao assistir, no "Jornal Nacional", a uma reportagem sobre possível falha no reverso do Airbus da TAM, o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia pediu desculpas por sua reação, mas apenas na última linha da nota oficial que divulgou. Marco Aurélio, porém, terá de explicar seu comportamento à Comissão de Ética Pública, responsável por avaliar a conduta dos servidores de alto escalão do governo federal.

Comissão vai analisar imagens na próxima reunião

A Comissão de Ética Pública se reunirá no próximo dia 30. O presidente em exercício da comissão, Marcílio Marques Moreira, informou ontem que, na reunião, serão analisadas as imagens de Marco Aurélio. A comissão deve abrir processo contra Marco Aurélio, que será chamado para dar explicações, por escrito ou pessoalmente. Ele e seu assessor, Bruno Gaspar, foram filmados comemorando, com gestos obscenos, a notícia veiculada pelo "Jornal Nacional" de que o avião da TAM tinha um defeito no reversor da turbina direita desde sexta-feira passada. As imagens do petista foram feitas por um cinegrafista da TV Globo, que estava na área externa do Palácio do Planalto. Marco Aurélio assistia ao noticiário em seu gabinete, no terceiro andar do Palácio (o mesmo do gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva), em frente à janela da sala. Em nota à imprensa, Marco Aurélio negou que tenha comemorado a notícia, que retiraria do governo a responsabilidade pelo acidente com o avião da TAM. Ele afirma que seu gesto não expressa satisfação, alívio ou felicidade, "como pretenderam setores da mídia". Segundo Marco Aurélio, naquele momento ele foi tomado de um sentimento de indignação contra o tratamento dado pela imprensa ao governo no noticiário sobre o acidente em Congonhas.

Para Marco Aurélio, setores da imprensa, "sem nenhuma investigação ou parecer técnico consistente", jogaram sobre o governo a responsabilidade pela tragédia, que matou cerca de 200 pessoas. "Assim, o sentimento que extravasei, em privado, foi e é de repúdio àqueles que trataram sordidamente de aproveitar a comoção que o país vive para insistir na postura partidária de oposição sistemática a um governo duas vezes eleito pela imensa maioria do povo brasileiro", diz.

O pedido de desculpas foi acanhado: na última frase da nota à imprensa, depois de todas as considerações sobre o papel da mídia na cobertura do acidente da TAM. "Aos que possam, ainda assim, sentir-se atingidos por minha atitude, apresento minhas desculpas", diz a nota.

Momento de "recolhimento, luto e pesar"

Na nota, Marco Aurélio afirma ainda que o momento é "antes de tudo de recolhimento, luto e pesar", lembrando que muitos dos mortos são gaúchos, assim como ele.