Título: Mudanças necessitam de planejamento
Autor: Ribeiro, Erica
Fonte: O Globo, 21/07/2007, O País, p. 8

Para analistas, reduzir tráfego em Congonhas é acertado, mas mudança poderá ter efeito no preço das passagens

Para especialistas em aviação, as medidas do governo, apesar de promoverem a redução do tráfego no Aeroporto de Congonhas, só surtiriam efeito havendo planejamento para que a solução não se torne, em pouco tempo, um novo problema. Um problema que, dizem, poderá pesar no bolso do consumidor, pelo custo de todas as mudanças que deverão ser feitas pelas empresas que hoje operam no local.

Uma fonte do setor diz que o governo permitiu que Congonhas se tornasse um centro de distribuição de vôos e conexões (hub), e nunca discutiu alterações como as feitas, por exemplo, no Santos Dumont, onde desde 2004 só há vôos regionais e de ponte aérea.

Para o consultor de aviação e ex-secretário-geral da Organização Internacional de Aviação Civil, Renato Cláudio Costa Pereira, a decisão política de se reduzir o tráfego é adequada. Na avaliação do especialista, a transferência do hub poderia ser feita para Guarulhos ou Viracopos. Mas ele alerta que a ausência de ligações que permitam a rapidez no deslocamento dos passageiros de um aeroporto mais distante para o Centro da cidade atrapalha a medida.

- Guarulhos tinha que ter sido feito na ponte de uma linha de trem ou metrô para a retirada dos passageiros com mais rapidez. A densidade do tráfego de Congonhas está exagerada. Mas medidas tomadas sem planejamento apenas transferem os problemas de um aeroporto para o outro - avalia.

Necessidade de planejamento

Pereira também ressalta que a construção de um novo aeroporto em São Paulo esbarra no mesmo problema:

- É preciso pensar no efeito colateral de mudanças sem planejamento, tanto no deslocamento de rotas e passageiros para Guarulhos quanto para Campinas. Mais uma vez, vai sobrar para o passageiro. Há meses foi detectado que o controle está degradado. Mas foi preciso mais um acidente grave para se mexer em um sistema que tem um impacto violento na economia e na vida das pessoas.

Para o vice-presidente da OceanAir Jorge Vianna, o processo não pode ser feito tão rapidamente, pois há necessidade de planejamento para que mudanças aconteçam.

- Fazer alterações de forma radical vai gerar um custo alto para as empresas que certamente terá reflexos no preço das passagens. Guarulhos já está bastante movimentado e, hoje, a viabilidade de um terceiro terminal lá esbarra em questões sociais. Há uma comunidade instalada no local - diz.

Já Gustavo Cunha Mello, analista de riscos aeronáuticos e professor do MBA de Gerenciamento de Risco da UFF, acha que a retirada do hub de Congonhas é acertada.

- Não faz sentido um aeroporto do tamanho de Congonhas ser um hub, em detrimento de opções melhores como Guarulhos, Viracopos e Tom Jobim (Galeão) - diz.

Ele condena a criação de mais um aeroporto em São Paulo e acha que uma obra em Guarulhos, com mais uma pista e dois terminais, seria suficiente, além de ser mais barata, gastar menos tempo e afetar menos o ambiente.

As maiores empresas aéreas do país -- TAM, Gol e Varig - preferiram não se manifestar. Já o Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea) informou que aguardará a regulamentação das medidas. Mas já adiantou que vai reunir seu conselho consultivo, formado pelos presidentes de todas as empresas, e que as novas medidas terão impacto financeiro.