Título: Anac: reverso é necessário em pista molhada
Autor: Rodrigues, Lino e Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 21/07/2007, O País, p. 18

Regulamento divulgado em janeiro orienta pilotos a usarem o equipamento ao máximo, sempre que possível.

SÃO PAULO. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) reconhece que o reverso é um item necessário ao pouso de aviões em pista molhada. Na Informação Suplementar de Regulamento Brasileiro de Homologação Aeronáutico (IS-RBHA) 121-189, divulgada em janeiro deste ano para orientar os operadores aéreos sobre os procedimentos de pouso e decolagem em pistas molhadas, a Anac orienta os pilotos a, "após o toque, confirmar a abertura dos "ground spoilers" e usar o máximo reverso assim que possível".

O Airbus-320 da TAM que se chocou em Congonhas estava com o reverso direito travado, por problemas de manutenção. A empresa, em nota divulgada ontem, reafirmou que a aeronave não precisava do equipamento no pouso em Congonhas. Mas especialistas sustentam que, se os dois reversos (que invertem a pressão da turbina e ajudam na frenagem do avião) estivessem funcionando normalmente, o piloto do A-320 teria um item a mais a sua disposição para tentar parar a aeronave.

Na instrução 121-189, a Anac lista todas as medidas necessárias para este tipo de pouso. A Anac pede que o reverso seja reduzido apenas quando o avião atinge a velocidade de táxi. Entre outros procedimentos, o piloto é orientado a arremeter em caso de ultrapassagem da zona de toque.

- A instrução não tem força de lei, mas nele a Anac explica como o regulamento deve ser cumprido - disse o engenheiro aeronáutico Fulvio Delicato, da USP.

A Anac explica que decidiu baixar a instrução porque, por muitos anos, as agências brasileira e americana de aviação não deram a devida atenção a pousos em pista molhada, já que naquela época o movimento nos aeroportos era pequeno e permitia que as aeronaves aguardassem a melhora nas condições para decolarem. "Com o aumento do tráfego aéreo, este procedimento (aguardar) é impraticável", diz o documento.

Pilotos e especialistas em segurança de vôo que atuam no Aeroporto de Congonhas avaliaram ontem, sob condição de sigilo de seus nomes, que a tragédia pode ter sido provocada por um conjunto de pequenas falhas de segurança agravadas pelo bloqueio do reverso. Um deles afirmou que, embora seja normal a liberação do vôo com um dos reversos travados, por causa desse bloqueio a TAM teria que ter reduzido o peso da aeronave. Mas, segundo a própria empresa, o peso do avião estaria próximo a 99% do limite.

Pilotos: soma de problemas

O Airbus também pode ter enfrentado outra dificuldade. Segundo pilotos, momentos antes do acidente foram relatadas oscilações na rampa eletrônica (sistema ILS) da pista. A rampa projeta o espaço virtual de manobra para que o piloto faça a aterrissagem em pistas curtas e sem área de escape, como é o caso de Congonhas. A Infraero não confirmou a informação. Os reversos fazem parte do sistema de freios aerodinâmicos das aeronaves e é utilizado antes dos freios mecânicos nas aterrissagens. Uma das hipóteses é que o Airbus tenha sofrido falhas no sistema hidráulico, que aciona os dois sistemas de freios.

Para os pilotos, as condições da pista de Congonhas não seriam causadoras do acidente, mas podem ter contribuído para a tragédia.

- Essa aterrissagem em Cumbica, por exemplo, não resultaria em tragédia. Há espaço de pista e área de escape. Talvez houvesse feridos, mas não uma tragédia desse tamanho - disse um deles.