Título: Banco Mundial está otimista com OMC
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Fonte: O Globo, 21/07/2007, Economia, p. 37

Índia diz que proposta apresentada esta semana "é uma boa base" para negociações.

WASHINGTON, GENEBRA e NOVA DÉLHI. Um acordo para ampliar o comércio mundial que beneficie "todas as economias" pode ser alcançado se os países estiverem preparados para negociar seriamente o texto preliminar lançado nesta semana pela Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmou ontem o presidente do Banco Mundial (Bird), Robert Zoellick. O ministro indiano do Comércio, Kamal Nath, também disse que considera o texto "uma boa base" para negociações.

"Um grande impulso final será necessário para preencher as lacunas, mas há agora um acordo na mesa para ser costurado", afirmou Zoellick, que atuou nas negociações da Rodada de Doha como secretário de Comércio dos EUA, em comunicado. "É particularmente importante que agricultores e trabalhadores nos países em desenvolvimento tenham mais oportunidades para vender seus produtos no mercado global".

- Este não é um texto de convergência, mas um texto que leva a negociações intensas - afirmou ontem o ministro indiano Nath, que conversou por telefone com o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, sobre o documento.

Negociadores em Genebra iniciaram na terça-feira uma nova tentativa de desatar o nó da Rodada de Doha, quase seis anos depois de seu lançamento, no Qatar. Mediadores da OMC divulgaram um documento com propostas para os setores agrícolas e de bens industriais.

O plano de Crawford Falconer, mediador das negociações agrícolas na OMC, propõe a redução dos subsídios totais aos produtores dos EUA para entre US$13 bilhões e US$16,4 bilhões por ano. Uma autoridade do governo George W. Bush considerou a proposta inaceitável.

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse na quinta-feira que as propostas são um avanço na questão agrícola. Mas ele apontou defeitos no documento, que exigiria muitas concessões dos países em desenvolvimento com relação a bens industriais.

- Acho que há progressos em relação ao que foi dito há um mês - disse Amorim em Genebra. - A questão que mais me preocupa é o desequilíbrio entre a proposta agrícola e o acesso ao mercado de bens industriais.

- Se o ministro diz que existe uma boa base para negociações, então podemos ter esperanças - disse T.K. Bhaumik, economista-chefe da Reliance Industries. - É hora de os membros da OMC iniciarem negociações de convergência.

Os países em desenvolvimento, liderados por Brasil, Índia e China, defendem a redução dos subsídios agrícolas de EUA e Europa. Mas também temem abrir demasiado seus mercados à importação de produtos industriais das nações ricas.

Os negociadores da OMC vão se reunir semana que vem em Genebra, antes de entrarem em recesso, para retomar os trabalhos em setembro. Nath disse que a Índia espera que, quando as negociações forem retomadas, as preocupações dos países em desenvolvimento sejam levadas em conta:

- É claro que estamos preocupados com relação às tarifas industriais, mas pelo menos agora há um parâmetro.

Segundo diplomatas, as reações dos países às propostas da OMC determinarão se a Rodada de Doha poderá ser concluída em 2007. Lamy tem alertado que, sem um acordo, as conversas podem ser congeladas por muitos anos.