Título: Agaciel descartado
Autor: Colon, Leandro, Rocha, Marcelo
Fonte: Correio Braziliense, 04/03/2009, Política, p. 02

Pressionado por senadores, José Sarney força o diretor-geral da Casa a pedir exoneração depois do escândalo em que admitiu ser proprietário de uma mansão milionária não declarada

O reinado de Agaciel Maia na Diretoria-Geral do Senado acabou. O presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), decidiu exonerá-lo do cargo. O estopim foi a suspeita de ocultar a propriedade de uma mansão de R$ 5 milhões no Lago Sul. Agaciel já estava na corda bamba depois das denúncias de possível envolvimento em fraudes nas licitações para contratar empresas terceirizadas. Sua saída do cargo é o fim de uma era na burocracia do Senado.

Pressionado por senadores, Sarney foi aconselhado na noite de segunda-feira por amigos e familiares a retirá-lo do posto administrativo mais importante do Senado, responsável por gerir um orçamento de R$ 2,7 bilhões, cuidar da nomeação de funcionários, de apartamentos funcionais e dos contratos milionários fechados pela Casa. O peemedebista avaliou que o episódio poderia se transformar numa crise política logo no início de sua gestão como presidente. Nada melhor, concluiu Sarney, do que adotar uma postura extrema, algo que ele mesmo vinha resistindo já que foi o responsável pela chegada de Agaciel à Direção-Geral do Senado em 1995.

Para evitar um mal-estar com o servidor, o senador acertou que ele entregaria uma carta de demissão ontem pela manhã. Os jornalistas foram chamados e a decisão anunciada: Agaciel estava fora. ¿Acho que, com isso, se resolve esse assunto que, lamentavelmente, prejudicou a imagem do Senado. Todos temos o dever de preservar essa imagem para o bom andamento dos trabalhos do Senado¿, destacou Sarney. ¿Seria de extrema indelicadeza se eu o demitisse sem que tivesse alguma acusação formal contra ele¿, ressaltou.

No lugar de Agaciel, assume, interinamente, o diretor-adjunto, José Alexandre Gazineo, que entrou no Senado em 1996 e é um dos poucos que restaram do grupo de servidores que vinha comandado a administração há mais de 10 anos. Em 2008 já haviam caído o então advogado-geral, Alberto Cascais, e os diretores de Compras e de Fiscalização e Controle, Dimitrios Hadjnicolau e Aloysio Brito Vieira, todos afastados pelo ex-presidente Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). (leia mais abaixo)

A exoneração é um balde de água fria nas pretensões de Agaciel. Funcionário efetivo do Senado há 32 anos, ele pretendia deixar a Direção-Geral só em 2011 para tentar uma vaga como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) ou até mesmo uma candidatura a deputado federal. Sabe que agora o cenário é outro. Mudou para pior. Se o discurso na segunda-feira era o de resistência (¿não vou sair por algo que não tenho culpa¿), ontem, o tom era diferente: ¿Se alguém tiver que ser dado em sacrifício para que isso se acalme, estou disposto a ser sacrificado¿.

Ele voltou a afirmar que é inocente, e alegou que o único erro foi não ter transferido a mansão do Lago Sul do nome do irmão, o deputado João Maia (PR-RN), para o seu. E alegou que há um componente político nesta crise. ¿Mas, por mais que eu mostre que eu não fiz nada de errado, que sou um servidor honesto e probo, existe uma coloração política em cima de tudo isso. Não vou ser motivo de desagregação político-partidária nesta Casa.¿

Os senadores apoiaram a postura de Sarney de trocar o diretor-geral. ¿Acho que o Poder Legislativo mostra ao Executivo que age com rapidez¿, disse o primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), que substituiu em fevereiro o colega de partido Efraim Morais (DEM-PB), um dos principais aliados de Agaciel dentro do Senado. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), mostrou-se satisfeito com a solução, mas exigiu a continuidade das investigações. ¿Isso não resolve todos os problemas. O funcionário tem que mostrar a origem do tamanho do seu patrimônio.¿

INTERINO O servidor José Alexandre Lima Gazineo não deve ficar muito tempo na Diretoria-Geral do Senado. Sarney busca um nome mais experiente para o cargo. Advogado, Gazineo entrou na Casa por concurso público em 1996 e, em pouco tempo, cresceu. Em 2005, deixou o comando da Secretaria Administrativa para virar diretor-geral adjunto, revezando com Agaciel Maia na assinatura de decisões administrativas do Senado.