Título: Medo de crise imobiliária nos EUA derruba bolsas no Brasil e no mundo
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 21/07/2007, Economia, p. 38

Lucros de empresas abaixo do esperado afetam ações. Bovespa cai 1,17%.

RIO e NOVA YORK. O medo de uma crise no mercado de hipotecas de alto risco (as chamadas subprime) nos Estados Unidos voltou a abalar as bolsas mundiais. Dois dias após o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, ter mostrado preocupação com o setor imobiliário, surgiram rumores de que o Deutsche Bank teria graves problemas nos seus fundos lastreados em créditos subprime. Isso elevou a aversão a risco dos investidores, que retiraram recursos de ações e países emergentes. As perdas nos mercados, segundo analistas, ganharam força com o aumento dos juros na China e resultados corporativos decepcionantes.

Influenciada pelos mercados externos, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 1,17%, fechando em 57.442 pontos. O risco-Brasil subiu 4,37%, para 167 pontos centesimais. E o dólar teve ligeira alta, de 0,1%, em R$1,857.

BC compra dólares, mas cotação cai 0,74% na semana

As bolsas americanas tiveram fortes quedas. O Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, recuou 1,07%. Os mercados europeus também tiveram perdas. Mas, na Ásia, a Bolsa de Xangai fechou em alta de 3,73%, influenciada pelo forte crescimento da economia chinesa - a decisão do governo de aumentar os juros do país só foi anunciada após o fechamento dos mercados locais.

O banco de investimentos JP Morgan afirmou ontem em relatório que cerca de metade dos mutuários das hipotecas subprime - que têm cerca de US$500 bilhões em empréstimos - terão problemas para refinanciar suas dívidas, o que aumentará a inadimplência.

- O resultado das empresas americanas decepcionou os investidores. Além disso, o medo de que uma crise no mercado de hipotecas de alto risco nos Estados Unidos se espalhe pela economia voltou a ganhar força ontem, aumentando a aversão a risco e elevando a procura por títulos do Tesouro americano - disse Gabriel Goulart, analista internacional da Mercatto.

Com maior procura pelos títulos públicos dos EUA, seus rendimentos recuaram para 4,95% ao ano (nos papéis com vencimento em dez anos), contra 5,03% na véspera.

Nos EUA, depois de os resultados da Google, divulgados quinta-feira à noite, terem ficado abaixo do esperado, a fabricante de máquinas Caterpillar anunciou queda de 21% nos lucros no segundo trimestre, para US$823 milhões. Na Europa, a Ericsson, maior fabricante de redes sem fio, divulgou desaceleração nas vendas. Mesmo o lucro tendo crescido 18%, para 1,3 bilhão, o resultado ficou abaixo das estimativas.

- Além dos fracos resultados das empresas, o dia também foi de ajustes, já que as bolsas subiram muito nos dias anteriores - disse Reginaldo Galhardo, da Treviso Corretora. - Parte dos investidores está preocupada com a forte alta da Bovespa, por isso migrou para o dólar e a renda fixa.

No mercado cambial brasileiro, o dia também foi de cautela. O dólar fechou em alta de 0,1%, cotado a R$1,857. Apesar da valorização de ontem, a divisa acumulou queda de 0,74% na semana. O Banco Central (BC) entrou no mercado e comprou, segundo estimativas, cerca de US$300 milhões.

Os analistas continuaram suas apostas de reduções menores nos juros básicos daqui para frente. Com isso, as taxas futuras subiram: o contrato para janeiro de 2010 avançou 0,04 ponto, para 10,76% anuais.

(*) Com agências internacionais