Título: Governo aposta em conglomerados nacionais
Autor: Batista, Henrique Gomes e Beck, Martha
Fonte: O Globo, 23/07/2007, Economia, p. 19
Para ministro do Desenvolvimento, crescimento sustentável depende de grupos fortes.
BRASÍLIA. O atual fenômeno de fortalecimento dos grupos empresariais brasileiros, que estão adquirindo concorrentes nacionais e internacionais, tende a se intensificar. Miguel Jorge, titular da pasta de Desenvolvimento, acredita que uma das bases para o crescimento sustentável do país depende de fortes grupos nacionais. Por isso, a criação de conglomerados verde-amarelos será um dos principais pontos de sua política industrial, a ser anunciada até setembro.
Para isso, estão sendo definidas duas linhas de atuação: financiamentos especiais para a compra de outras companhias e incentivos, inclusive tributários, para alguns setores com potencial de puxar o crescimento do país nos próximos anos. Entre eles, estão os de bens de capital, semicondutores, software e fármacos, além dos considerados pelo governo como "portadores de futuro" (biotecnologia, biomassa, biocombustíveis, nanotecnologia).
- A nova política deverá ajudar a fortalecer grandes empresas brasileiras de atuação global em setores em que o Brasil é competitivo, como o de commodities - afirmou o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.
Setores de alimentos, imóveis e álcool podem ter novas aquisições
Mas, na avaliação de especialistas, esta política de financiamento, que ainda não teve detalhes divulgados, terá que ser ousada para potencializar o que já está ocorrendo no mercado. Isso porque as empresas já estão captando recursos a um custo muito baixo, principalmente no mercado de capitais. E, independentemente do incentivo estatal, esse fenômeno deve ocorrer naturalmente.
- Acredito que os setores de carnes e alimentos em geral, imobiliário (ainda focado em shoppings centers), varejo, mineração e açúcar e álcool, que passam por momentos de consolidação, devem liderar os casos de fusões e aquisições daqui para a frente - afirmou o advogado Carlos José Rolim de Melo, sócio do escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice.
Entre os setores que mais registraram fusões e aquisições, este ano, estão os de alimentos, varejo, química e construção. O grupo Perdigão, por exemplo, comprou as empresas Plusfood Groep BV, Sino dos Alpes Alimentos e o Frigorífico Valore Participações. Além disso, a Ipiranga foi comprada por um grupo formado por Petrobras, Ultra e Braskem.
Os especialistas ressaltam, contudo, que este fenômeno de concentração não resultará apenas em grandes grupos nacionais. As empresas estrangeiras continuarão a adquirir firmas brasileiras.
- Temos que lembrar que aumentou muito o número de fusões nacionais. No entanto, não caíram as compras estrangeiras - afirmou Raul Bier, sócio da PricewaterhouseCoopers.