Título: No trabalho às escuras, temor de novo desastre
Autor: Beck, Martha e Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 22/07/2007, O País, p. 3

BRASÍLIA. A pane no Cindacta-4, com sede em Manaus, provocou, por alguns minutos, o temor de um novo desastre aéreo entre os controladores de vôo que trabalhavam às escuras, após o corte de energia. De acordo com militares que estavam de plantão, após o apagão dos radares eles perceberam que dois aviões trafegavam na mesma rota e cruzariam o mesmo ponto sobre a cidade de Belém, capital do Pará. Mas, apesar da dificuldade na comunicação por rádio, sem visualização das aeronaves na tela de controle, uma delas teve a rota alterada a tempo.

- Os aviões estavam no mesmo nível e iam até Belém. Se isso acontecesse, iriam colidir em cima da cidade. O mais importante era mexer com uma dessas aeronaves. Tentamos contato e ao término de várias tentativas conseguimos êxito desviando uma aeronave - contou um controlador de vôo, que não quis ser identificado, em entrevista ao "Jornal Hoje", da TV Globo.

Controladores ouvidos pelo GLOBO disseram que a alteração do controle por radar para o chamado controle convencional feito por rádio de alta freqüência é muito perigoso quando realizada abruptamente. Quando isso acontece - sempre que há queda de energia -, os controladores se comunicam com as aeronaves e refazem o plano aéreo. Eles passam a trabalhar com a estimativa de localização de cada uma delas calculada com base em informações como a velocidade dos aviões e as condições do tempo. Por medida de segurança, os controladores aumentam o espaçamento entre os vôos.

O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Proteção ao Vôo, Jorge Botelho, afirmou que a nova pane mostra que os controladores de vôo não estavam errados ao denunciar, inúmeras vezes, as más condições dos equipamentos que têm à sua disposição.

Embora tenha provocado transtornos, Botelho elogiou a decisão do comando do Cindacta-4 de impedir, após a pane, a entrada de novos aviões no espaço aéreo da Região Amazônica. Segundo ele, a equipe de Manaus é inexperiente e, neste caso, a cautela é recomendada:

- Se tivéssemos operadores experientes, seria possível operar no sistema convencional. Mas em função de toda a crise aérea, muitos controladores foram transferidos para o Cindacta-1 (Brasília).

No início da crise, os controladores denunciaram que a baixa qualidade dos equipamentos estava fazendo com que os aviões desaparecessem e mudassem de altitude repentinamente. A Aeronáutica negou a informação na época afirmando que os equipamentos estão em bom estado. À medida em que a crise foi se agravando, os militares, que faziam críticas públicas ao comando, passaram a ser ameaçados de punições.

Em junho, o vice-presidente da Federação Brasileira das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo (Febracta), Moisés Gomes de Almeida, foi detido no alojamento após entrevista à rádio CBN.