Título: Caos agora é internacional
Autor: Beck, Martha e Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 22/07/2007, O País, p. 3
Pane no Cindacta-4, na Amazônia, leva a cancelamento de vôos na rota para os EUA.
Uma pane elétrica nos equipamentos do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo de Manaus (Cindacta-4), ocorrida na madrugada de sábado, paralisou os radares por por três horas e 15 minutos e deixou os controladores de vôo operando em situação de emergência, utilizando apenas a comunicação por rádio. Segundo confirmaram fontes da Aeronáutica, os geradores de energia não funcionaram e os controladores continuaram a trabalhar no escuro. Em nota divulgada às 18h30m de ontem, o Comando da Aeronáutica disse que a pane foi provocada devido a um curto-circuito que ocorreu durante um procedimento técnico de manutenção no grupo de geradores de contingência, que integram o sistema de energia elétrica do Cidacta-4. Segundo a Aeronáutica, a pane aconteceu às 23h15m (horário de Manaus, uma hora atrás do de Brasília) e o fornecimento de energia ficou interrompido até às 1h32m. Mas o controle aéreo por radar só foi retomado às 2h30m.
A pane aconteceu no horário de pico do Cindacta-4 (responsável pelo controle aéreo da região amazônica) e afetou 12 vôos internacionais, já que a região é rota de entrada e saída da América Central e dos EUA. As aeronaves que ainda não sobrevoavam a Amazônia, mas se dirigiam à região, foram obrigadas a retornar aos seus locais de origem.
O problema também causou o risco de uma nova tragédia, segundo relatos de controladores que estavam de plantão. Segundo eles, dois aviões que estavam perto da cidade de Belém, no Pará, quase se chocaram.
País vive novo dia de caos aéreo
A pane do Cindacta-4, somada aos problemas causados pela forte neblina no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, e em outras cidades, como no Rio, causaram mais um dia de caos aéreo, provocando atrasos em cascata nos aeroportos brasileiros. Segundo a Infraero, dos 949 vôos programados entre meia-noite e 14h30m, 396 (41,7%) atrasaram mais de uma hora. Foram cancelados 96 vôos (10,6%). Todos os vôos que sobrevoaram a região amazônica foram afetados. A média de atraso foi de três horas e meia. Em Belém, 85,7% dos vôos atrasaram.
A queda de energia em Manaus obrigou vôos que saíam de São Paulo e do Rio de Janeiro para o exterior a retornarem aos aeroportos de origem. Vôos que vinham de Nova York, Miami e Los Angeles também tiveram que retornar ou foram desviados para outras cidades da América do Sul, como Santiago do Chile. Como o pouso com o tanque cheio é perigoso, em muitos casos os pilotos tiveram que jogar combustível no mar ou gastá-lo sobrevoando as cidades antes de fazer o pouso.
Trata-se de um agravante da crise aérea brasileira, pois o problema agora atinge também o funcionamento de empresas estrangeiras que atuam no país. Com a falta de comunicação nos radares de Manaus, dois vôos da American Airlines que iam de São Paulo para Miami, por exemplo, tiveram que descer na capital do Amazonas. O problema também fez com que, pelo menos, dez vôos internacionais tivessem atrasos de mais de uma hora e outros fossem cancelados.
- O problema causou muitos transtornos - admitiu o presidente da Infraero, José Carlos Pereira.
O Cindacta-4 abrange toda a região amazônica, que registra grande fluxo de tráfego aéreo durante a madrugada, uma vez que é a rota mais comum dos vôos que saem dos estados da Região Sudeste para os EUA e também dos vôos da América Central para o Brasil.
O problema no Cindacta-4 acabou provocando o cancelamento de um vôo da United Airlines, que sairia sexta-feira à noite de Washington, com 73 atletas americanos que participarão do Pan. Novo vôo partiu ontem, mas o horário não foi informado por questões de segurança.