Título: Recorde de investimentos
Autor: Duarte Patrícia
Fonte: O Globo, 24/07/2007, Economia, p. 21

CHUVA DE DÓLARES

Brasil recebeu US$10 bi, só em junho, em recursos externos para o setor produtivo.

Omaior crescimento do Brasil e o cenário externo favorável levaram o país a bater recorde na atração de recursos produtivos. Em junho, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) alcançou US$10,318 bilhões. O número, surpreendente, é quase 60% acima da expectativa do próprio Banco Central (BC) para o período, que era de US$6,5 bilhões. No primeiro semestre, os investimentos estrangeiros voltados para a produção chegaram a US$20,864 bilhões. É um resultado melhor que o desempenho de todo o ano passado (US$18,78 bilhões). E que supera também o saldo anual do período entre 2001 e 2005.

A indicação é de que o movimento continuará forte. Segundo expectativa do chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, julho deve fechar com cerca de US$3,5 bilhões.

- A tendência é de entrada (de recursos) muito grande. Caminhamos para a consolidação de um novo patamar, acima dos US$20 bilhões ao ano (de investimentos).

O BC prevê saldo de investimentos estrangeiros diretos de US$25 bilhões este ano, mas a estimativa poderá ser revista para cima.

Em viagens, déficit de US$1,8 bilhão

O mercado também foi pego de surpresa e já refaz suas contas. O economista-chefe do WestLB no Brasil, Roberto Padovani, adianta que suas projeções para investimento produtivo este ano devem subir para entre US$30 bilhões e US$35 bilhões. Na sua avaliação, as condições macroeconômicas do país têm atraído os investidores, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de todos os bens e serviços produzidos pelo país) próximo a 5%. Além disso, o Brasil tem aproveitado a abundância de capitais no mundo.

- Há recuperação de investimentos diretos no mundo todo, sobretudo no setor de commodities - acrescentou a economista-chefe do ABN Amro, Zeina Latif.

Em junho, segundo Lopes, do BC, cerca de US$7 bilhões dos investimentos estrangeiros vieram de operações nos setores siderúrgico (US$5 bilhões) e financeiro (US$1 bilhão). No período, houve a compra das ações dos minoritários da Arcelor feita pela siderúrgica Mittal. E um investimento de US$495 milhões do alemão Deutsche Bank numa participação na Unibanco Participações Societárias.

Além disso, outro US$1 bilhão em investimento entrou pelo setor "serviços a outras empresas". Neste caso, trata-se da compra da Serasa pelo grupo irlandês Experian. Apesar das ações concentradas, acrescentou Lopes, os cerca de US$3 bilhões restantes, pulverizados em outros setores, são importantes:

- Estamos vendo um processo mais sustentável do que na época da privatização (fim da década de 90) porque há muito investimento novo.

Na conta de transações correntes (todas as trocas, de bens, serviços e recursos com o exterior), o saldo ficou positivo em US$696 milhões em junho, semelhante ao resultado do mesmo mês no ano passado (US$632 milhões). No ano, o superávit em conta corrente está em US$4,383 bilhões, quase 60% mais que em 2006. A balança comercial continua puxando os resultados para cima, com saldo positivo de US$3,815 bilhões em junho.

Do outro lado, as remessas de lucros e dividendos no período tiveram déficit de US$1,746 bilhão, praticamente o mesmo valor que em junho de 2006, quando ficaram negativas em US$1,629 bilhão. Já as despesas com juros e viagens internacionais tiveram déficits de US$560 milhões e US$353 milhões, respectivamente.

Para Lopes, a apreciação do câmbio - com o dólar já na casa de R$1,80 - tem estimulado os brasileiros a viajar mais para o exterior, apesar da crise no setor aéreo. No acumulado do ano, até junho, o déficit neste segmento chegava a US$1,8 bilhão. Entre os dias 1º e 20 de julho, essa conta ficou negativa em US$298 milhões.

O BC informou ainda que a dívida externa do país cresceu em junho, chegando a US$196,429 bilhões.