Título: Efeito EUA nas bolsas
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 25/07/2007, Economia, p. 25

Bovespa cai 3,86%, a maior queda em cinco meses. Dólar sobe 1,14%, para R$1,863.

Os resultados das empresas americanas no segundo trimestre deste ano abaixo do esperado e o medo de que uma crise nas hipotecas imobiliárias de alto risco (as chamadas subprime) dos Estados Unidos se alastre pela economia fizeram a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrar a maior queda em cinco meses. Ontem, o pregão fechou em baixa de 3,86%, aos 55.794 pontos, contra os 58.036 pontos marcados no dia anterior. Com a aversão a risco por parte dos investidores estrangeiros, o risco-Brasil subiu 5,33%, para 178 pontos centesimais. O pessimismo internacional também afetou o câmbio. O dólar encerrou em alta de 1,14% no mercado brasileiro, cotado a R$1,863.

Segundo analistas, o tombo da Bovespa acompanhou o mercado acionário americano. Nos EUA, o Dow Jones, principal índice da Bolsa de Nova York, caiu 1,62%. O Nasdaq recuou 1,89% e o S&P, 1,98%. Na opinião de Fábio Knijnik, analista sênior da BES Investimento, a insegurança dos investidores com a economia americana afetou as bolsas. A Bovespa foi na esteira dos mercados americanos e registrou a maior perda desde 27 de fevereiro, quando a queda fora de 6,6% em meio a temores com uma desaceleração na economia chinesa.

O recuo de 3,86% da Bovespa ontem foi também foi o maior entre os principais índices acionários do mundo, mas as bolsas asiáticas já tinham fechado quando surgiram as preocupações nos Estados Unidos.

- A tendência, no entanto, é que os indicadores brasileiros se descolem do mercado americano no médio prazo, já que as perspectivas para o país continuam positivas - diz Knijnik, da BES.

No mercado de câmbio, o dólar permaneceu em alta durante todo o dia de ontem. Mesmo assim, o Banco Central comprou, segundo estimativas, cerca de US$200 milhões em divisas. Para Sidnei Moura Nehme, economista da corretora NGO, o medo de uma crise nos subprime fez grande parte dos investidores mudar suas posições.

Perdas em ações de Petrobras e Vale

Os temores com a economia americana ganharam ainda mais impulso quando, no início da tarde, o fundo australiano Basis Capital pediu ajuda ao grupo americano Blackstone para gerir duas de suas carteiras lastreadas em hipotecas de alto risco.

Pela manhã, os investidores já trabalhavam com perdas, após a divulgação de resultados corporativos negativos. O McDonald"s registrou o primeiro prejuízo dos últimos quatro anos. A Dupont lucrou US$972 milhões no segundo trimestre, contra US$975 milhões no mesmo período do ano anterior. O resultado ficou abaixo do esperado por analistas. As ações da American Express caíram com a notícia de que a empresa ampliou a reserva de dinheiro para perdas com a inadimplência de clientes.

Álvaro Bandeira, economista-chefe da Ágora, lembra que os investidores estão cautelosos quanto à economia americana já que, depois de amanhã, será divulgado o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) dos EUA no 2º trimestre deste ano.

Para Ivo Chermont, economista da Modal Asset Management, além das bolsas americanas, os negócios no Brasil ainda foram afetados, em grande parte, pelas perdas nas ações da Petrobras e da Vale do Rio Doce, que, juntas, respondem por 28% do Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas na Bolsa.

Os papéis das empresas caíram porque, em meio a um temor de um crescimento menor nos EUA, as cotações de commodities como níquel e petróleo recuaram ontem. Além disso, a ação da Petrobras sofreu devido à cobrança, pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), de R$1,3 bilhão adicional em receitas que devem ser repassadas aos governos federal e do Estado do Rio e a prefeituras fluminenses. As ações PN da estatal caíram 5,61%. Os papéis da Vale tiveram queda de 3,11%.

(*) Com agências internacionais