Título: Petrobras inicia testes com biodiesel à base de mamona
Autor: Barbosa, Flávia
Fonte: O Globo, 25/07/2007, Economia, p. 29

Tecnologia inédita atende a padrões do mercado europeu.

GUAMARÉ (RN) e NATAL. Principal parceira do Programa Nacional de Biocombustíveis, a Petrobras está muito próxima de tornar realidade a obsessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fazer da mamona a matéria-prima de um combustível internacional. A estatal já consegue produzir com tecnologias brasileiras - uma delas patenteada - biodiesel com padrões que atendem também os mercados americano e europeu. Além disso, o desempenho de veículos nas estradas mostra que o óleo vegetal faz tão bem aos motores quanto o diesel comum.

Testes em parceria com a Ford e a universidade Unifacs (BA) mostraram que o desempenho do veículo usando diesel misturado a 5% de óleo de mamona (B5) é idêntico ao do motor que roda com o combustível fóssil e o B5 de soja.

- O motor não reclama - comemora Mozart Schimitt, gerente de desenvolvimento energético da Petrobras. - Isso quer dizer que mamona dá!

Para provar que não só a mamona, mas outras oleaginosas brasileiras - como dendê e pinhão manso - são viáveis, a Petrobras também já investiu R$20 milhões, desde 2005, em duas unidades experimentais no Pólo de Guamaré, a 180 km de Natal (RN). A primeira está fazendo adaptações na forma clássica de produção para processar o óleo da mamona e de outras sementes nacionais.

A segunda é inédita. Já extrai biodiesel de dentro da mamona. Isso elimina a compra do óleo - que representa 80% do custo de produção de biodiesel - e permite a instalação de uma usina em qualquer rincão próximo à produção das sementes.

- Temos quase 100 milhões de hectares disponíveis no Brasil para cultivo. Isso quer dizer que o Brasil pode ser a Arábia dos biocombustíveis - aposta Carlos Khalil, do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) e criador do processo que resultou em patente em 2003.

Usinas iniciam produção regular em 2008

Os procedimentos industriais em curso são distintos, mas têm objetivos únicos: desenvolver tecnologia própria para processar as plantas brasileiras - o mundo está voltado à soja (EUA) e à canola (Europa) como matéria-prima -, reduzir os custos e alcançar independência em relação às safras.

- Produzir biodiesel a partir de oleaginosas fora da cadeia alimentar é o ideal, para fugir de quebra de safra, ou seja, ter matéria-prima o tempo todo. A mamona nos oferece isso - afirma Mozart Schimitt.

As duas usinas entrarão em produção regular no próximo ano. A partir de janeiro de 2008, a mistura de 2% de biodiesel ao diesel será obrigatória. A Petrobras também está construindo três plantas - em Candeias (BA), Montes Claros (MG) e Quixadá (RN). Elas vão produzir 171 milhões de litros por ano, 21,5% do mercado brasileiro estimado para 2008, com investimento total de R$227 milhões.

A estatal diz que grupos privados terão a liderança inicial do mercado, mas pretende assumir essa posição mais tarde, quando estiver com pleno domínio de suas novas tecnologias. Em 2011, a Petrobras espera produzir 855 milhões de litros anualmente, 34% dos dois bilhões esperados para o país.

A prioridade da companhia é trabalhar com fornecedores da agricultura familiar, aproveitando o chamado Selo Social (que dá isenção fiscal às empresas que apostarem sobretudo nas regiões Nordeste e Norte). São 70 mil famílias beneficiadas com as três primeiras plantas.

(*) A repórter viajou a convite da Petrobras