Título: Rossano, cotado para a Infraero
Autor: Cruvinel, Tereza
Fonte: O Globo, 26/07/2007, O Globo, p. 2

O ministro Nelson Jobim evitou ontem declarações sobre mudanças na Infraero, mas elas vão acontecer. Ele recebeu de Lula carta branca para agir contra a crise aérea e também uma informação, que não chegou a ser uma indicação: Rossano Maranhão, ex-presidente do Banco do Brasil, que deixou o cargo voluntariamente no ano passado, ligou para Lula esta semana colocando-se à disposição para segurar o pepino, se for preciso. Ele voltou para a iniciativa privada, onde está ganhando os tubos. Mas disse ao presidente que, para ajudar na superação da crise aérea, topa voltar ao governo para presidir a Infraero e promover as mudanças na empresa, inclusive a abertura de seu capital, já desenhada pelos ministros Mantega e Paulo Bernardo. Eles também gostaram do nome. Jobim anotou.

Maranhão foi nomeado por Palocci para presidir o Banco do Brasil em 2004, substituindo Cassio Casseb, que saíra alvejado por denúncias. Fez uma gestão financeiramente boa para o banco, mas pediu para sair no ano passado, depois de remover petistas de cargos de direção, o que lhe rendeu atritos com o partido.

Enfim, Jobim

Apesar das passagens inadequadas do discurso do presidente Lula, com a posse de Nelson Jobim no Ministério da Defesa o governo começou a sair da lona em que foi jogado pelo desastre aéreo da semana passada. O novo ministro não é um perito no assunto, nem tinha que ser. Para enfrentar a crise, Jobim tem os atributos que contam: autoridade, respeito da sociedade, capacidade de comandar e mobilizar recursos, sobretudo humanos. Mas seu ingresso agregará também valor político ao governo, podendo-se antever uma influência que irá além de sua pasta.

No sábado, publicamos aqui que ele recusara uma sondagem e um convite, feitos por emissários de Lula (o ministro Franklin Martins e o ex-deputado Sigmaringa Seixas). Jobim resistia a ocupar um cargo de natureza estranha a sua formação e trajetória e enfrentava a resistência de sua mulher, Adriene. Mas, desde então, Sigmaringa trabalhou para que aceitasse, ajudado por outros amigos comuns, entre eles o ministro do STF Gilmar Mendes. Quando Jobim finalmente aceitou, na noite de anteontem, Lula já se resignara a transferir Paulo Bernardo para a Defesa. Já avisara a Guido Mantega que Nelson Machado teria de sair da Fazenda para substituir Bernardo no Planejamento.

O demorado sim de Jobim, que acabou deixando Lula muito satisfeito, pode ter relação com o estremecimento que os dois tiveram em março. Jobim era candidato a presidente do PMDB e esperava um apoio mais explícito de Lula, que não se envolveu para ficar bem com as duas alas do PMDB. Jobim desistiu.

Mas anteontem, quando Sigmaringa telefonou dizendo que finalmente Jobim aceitava, o jogo foi rápido. Lula pediu que fossem logo ao Planalto. Numa reunião em que estavam o presidente e seu secretário-particular, Gilberto Carvalho, os ministros Dilma, Bernardo e Franklin Martins, Jobim ouviu um resumo do quadro. Agora, o diagnóstico da crise estava claro e as providências, delineadas. Com carta branca para agir e o apoio dos demais ministros, ele era o homem certo para o desafio, disseram todos. Entre outras perguntas, ele quis saber de Lula se teria autoridade integral, inclusive orçamentária, sobre as três armas. "Não tenha dúvida disso", assegurou Lula. É sabido que ali os comandantes das três forças ainda atuam como ministros setoriais.

Quem conhece Jobim sabe o quão cioso ele é de autoridade, em qualquer cargo que esteja. Já como relator da revisão constitucional, ganhou fama de auto-suficiente e centralizador. Na entrevista de ontem, respondeu a uma pergunta dizendo um "quem manda é o ministro". Está faltando quem mande no setor aéreo, acima dos gerentes das três áreas básicas: controle do tráfego, aeroportos e infra-estrutura e regulação.

Ali mesmo ele recebeu de Bernardo o organograma do ministério da Defesa e o estudou de madrugada. Parece ter ficado claro, pelo menos inicialmente, que haverá mudanças na Infraero mas que o governo evitará o desgaste que teria com uma troca de toda a diretoria da Anac, o que exigiria a aprovação do Senado. A idéia é fortalecer o Conac, presidido pelo ministro da Defesa e integrado por outros ministros. Assessorado por especialistas, o Conac adotaria as medidas e o ministro da Defesa comandaria sua implantação.

A cerimônia de posse, depois de tudo o que já aconteceu, exigia circunspecção e objetividade. Lula, emocionalmente afetado por ter tido que demitir Waldir Pires, deixou de lado o discurso escrito pelo ministro Luiz Dulci e foi extremamente infeliz em seus improvisos. Especialmente, no excessivo elogio a Waldir, como a desculpar-se pela troca. Não precisava ter fingido que ele pediu para sair. Disse frases infelizes, como aquela em que prometeu um momento melhor mas que não poderia garantir que não haverá outro acidente aéreo. Outros acontecerão mesmo mas a hora é de dizer que, da parte do governo, tudo será feito para que nunca mais ocorra outro.