Título: 'No avião, entrego a sorte a Deus'
Autor: Franco, Ilimar
Fonte: O Globo, 26/07/2007, O País, p. 3

Em solenidade com descontração, Lula diz ter medo de voar.

BRASÍLIA. Foi a primeira vez que o presidente Lula apareceu em público após a tragédia em Congonhas, há nove dias. Na cerimônia de posse de Nelson Jobim no Ministério da Defesa, Lula fez um discurso sério sobre o acidente, mas chegou a contar piadas, arrancando risos dos presentes na solenidade. Num tom mais descontraído do que se previa diante da gravidade da situação, o próprio presidente disse que "é preciso que a gente tenha momentos de descontração para tornar a vida, eu diria, menos sofrível".

- Eu não sei se aqui neste plenário tem alguém que não tenha medo de avião. Eu, particularmente, toda vez que o avião fecha a porta, entrego minha sorte a Deus porque estou na mão de um comandante, que é um ser humano; estou na mão de uma máquina ultramoderna, mas que é uma máquina; estou na mão de um controlador, que diz quando devo parar ou não; e estou na mão das intempéries, que nem sempre o ser humano consegue controlar. Mesmo assim, sabendo que tenho o conforto de entregar a minha sorte a Deus, eu sou um medroso de andar de avião.

Em seguida, fez o ex-ministro Waldir Pires sorrir, ao dizer que ele havia errado em 1989 ao disputar a vice-presidência na chapa de Ulysses Guimarães (PMDB). Em outro momento, afirmou que foi buscar Jobim, que "estava sem fazer nada, atrapalhando a esposa (Adrienne Senna), que pedia para ele sair de casa um pouco" para substituir Pires. Lula brincou mais duas vezes, tendo as verbas do Orçamento como mote:

- Guido, para você ficar feliz, ele é um ministro que não dará despesa porque já ganha o teto. Fique tranqüilo que não vai aumentar o orçamento.

Antes e após a cerimônia, as autoridades demonstraram descontração. Como na roda em que estavam a presidente do STF, Ellen Gracie, e o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito.

O discurso de Lula também teve indelicadezas com o ministro que entrou e com o que saiu. Após elogiar Pires, aconselhou-o a escrever livro sobre a história política que vivenciou. Quanto mais o presidente falava, mais Pires se encolhia.