Título: Novo ministro não é da área, mas é conhecido por personalidade forte
Autor: Brígido, Carolina
Fonte: O Globo, 26/07/2007, O País, p. 4

Na presidência do STF, Jobim foi acusado de agir como um defensor de Lula.

BRASÍLIA. O cargo é visto como um dos menos atraentes de toda a Esplanada dos Ministérios. O desafio é grandioso e o momento não poderia ser mais crítico. Por tudo isso, ele titubeou e chegou a recusar o convite pelo menos uma vez, mas o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim, considerado um peemedebista histórico, pensou melhor e consultou a mulher Adrienne e alguns amigos - de fora do PMDB - antes de aceitar. Desde março do ano passado, quando abdicou de uma das 11 vagas do Supremo, onde poderia ficar até 2016, Jobim tinha disposição de voltar para a vida pública.

Jobim não tem experiência na área, mas lançará mão da personalidade forte e do estilo enérgico como armas para enfrentar o caos aéreo, como deixou claro na primeira entrevista, ontem.

Jobim foi acusado de ajudar FH e Lula em seus mandatos

Ao deixar a presidência do Supremo, ainda sem terminar seu mandato, Jobim cogitou sair candidato ao governo do Rio Grande do Sul, seu estado natal. Pensou ainda em disputar uma cadeira no Congresso Nacional. Chegou a ser cogitado para ser candidato a vice de Lula na chapa da reeleição. E, por último, este ano, entrou na disputa pela presidência do PMDB, mas acabou desistindo quando viu que perderia para o deputado Michel Temer (SP). Fracassou em todas as tentativas e contentava-se em atuar num renomado escritório de advocacia.

O novo ministro da Defesa é personalidade de vida pública peculiar. Já integrou, ao longo da carreira, os três poderes: foi deputado constituinte, ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso e membro do STF por sete anos. Durante o processo eleitoral de 2002, presidiu o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A passagem pelo Judiciário deu a Jobim a reputação de defensor dos interesses do governo - independentemente de qual governante estivesse no poder.

Na era Fernando Henrique, costumava pedir vista de processos contrários aos interesses do governo e demorava meses para devolvê-los à Corte. Procedeu dessa forma em relação a uma ação direta de inconstitucionalidade proposta pela oposição contra parte da emenda constitucional 19, que instituiu a reforma administrativa.

Os artigos contestados tratam de mudanças nas regras de contratação dos servidores públicos. O julgamento foi adiado por quase dois anos devido a um pedido de vista de Jobim. Quando o caso foi devolvido ao plenário, o ministro votou a favor do governo. Em seguida, outros ministros também pediram vista - nenhum por mais que alguns meses - e ainda não foi dada decisão final ao caso.

No governo Lula, Jobim ajudou o Planalto em um caso crucial em relação à reforma da Previdência. O ministro conseguiu convencer a maioria dos colegas a votar a favor da cobrança de contribuição previdenciária aos inativos, uma medida tentada no primeiro mandato de Fernando Henrique.

Na presidência do Supremo, Jobim foi acusado de agir sem isenção e ser mais um defensor do presidente Lula do que um magistrado. Jobim chegou a se reunir com alguns dos principais acusados no escândalo do mensalão para conversar com eles sobre as formas de conduzir a defesa no processo.

No auge da crise do mensalão, Jobim deu uma liminar ao então deputado José Dirceu determinando que o processo por quebra de decoro fosse reiniciado na Câmara. Isso valeu para todos os outros envolvidos no escândalo, abrindo mais tempo para a defesa e para aqueles que pretendiam renunciar para não perder os direitos políticos.

Desejo de voltar à política falou mais alto

Quando decidiu dar uma guinada na vida profissional, Jobim ainda tinha pela frente três meses de mandato na presidência do STF. O cargo é o quarto na linha sucessória. Na ausência do presidente da República, do vice e do presidente da Câmara, cabe ao presidente do STF assumir o Planalto. Tinha o emprego garantido até 2016, quando faz 70 anos de idade e, por isso, seria obrigado a se aposentar. Nada disso falou mais alto do que o desejo de voltar para a política.

Dono de opiniões fortes e com reputação de briguento, Jobim promete emoções fortes. Pelo menos é essa a expectativa do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto. Ele avaliou a nomeação de forma positiva:

- Com Jobim não há tédio. É polêmico, gosta do enfrentamento, e já demonstrou na vida pública que não se acomoda com situações preexistentes.