Título: Após aceitar cargo, Jobim liga para FH e Serra
Autor: Franco, Ilimar e Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 26/07/2007, O País, p. 5

Novo ministro já havia recusado o convite duas vezes, mas cedeu anteontem à noite; segundo ele, sua mulher deu aval.

BRASÍLIA. Depois de resistir e até alegar problemas domésticos, o novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, aceitou o cargo ao ser convencido de que estava assumindo uma missão de Estado para ajudar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a enfrentar a maior crise do governo: o caos aéreo. A decisão foi tomada na noite de terça-feira, quando Jobim foi ao Palácio do Planalto dar a palavra final a Lula. Como ele mesmo contou na entrevista, ontem, mudou de idéia porque sua mulher, Adrienne Sena, disse que ele deveria aceitar o cargo de ministro.

Mas a mulher não foi a única conselheira. Ao final da conversa com o presidente, na noite de terça-feira, Jobim pediu a Lula autorização para avisar ao governador e amigo José Serra (PSDB-SP) que estava assumindo o posto. Lula concordou. Mas ressaltou que o anúncio não poderia ser feito naquela noite, pois precisava informar antes ao ministro Waldir Pires a substituição.

Um dos primeiros telefonemas de Jobim, após conversar com Lula, foi para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi ministro da Justiça e que o indicou para o Supremo Tribunal Federal. Também antes de aceitar o convite, Jobim consultou alguns amigos do Supremo. Entre eles, o ministro Gilmar Mendes. Queria ouvir avaliações neutras sobre sua eventual decisão. Gilmar deixou claro que aquela era uma circunstância especial, diante da "missão de Estado" que recebera de Lula.

- Conversei com o Jobim. Ficou claro que ele foi assumir uma missão - disse Gilmar.

Há três semanas, quando foi sondado para o cargo pelo ministro Franklin Martins, Jobim alegou problemas familiares e disse que já havia garantido a Adrienne que não voltaria a ocupar cargos no governo. Ao aceitar o convite, Jobim contou a Lula que a mulher "havia autorizado". O presidente, então, fez questão de ligar para Adrienne, para dizer que agradecia pelo gesto de Jobim e que sabia que era um sacrifício para toda a família, mas que tinha certeza de que ele será recompensado. Lula conversou de forma descontraída com Adrienne, num gesto de cortesia:

- Muito obrigado por você liberar ele, mas vai ser uma coisa importante para o país - teria dito Lula, em tom bem humorado, segundo interlocutores.

Na posse de Jobim, Adrienne estava sorridente. E seu poder foi declarado pelo próprio marido, na entrevista coletiva, quando disse que mudou de idéia porque ela o autorizara.

A primeira sondagem a Jobim ocorreu há três semanas, quando ele foi procurado por Franklin Martins. Na sexta-feira, três dias depois do acidente com o avião da TAM, em Congonhas, quando a crise aérea chegou no ápice, Jobim foi ao Planalto.

Sigmaringa: "Jobim é um homem de espírito público"

Segundo fontes do governo, novamente, naquela sexta-feira, Jobim teria relutado, alegando questões pessoais, mas Lula não desistiu e pediu a um amigo em comum, o ex-deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), para convencê-lo. Lula deixou claro que achava que Jobim era o nome ideal para o cargo. Ressaltou que Jobim, além de ter presidido um dos três poderes da República, tinha agilidade e personalidade para ser o rosto do governo para responder à crise aérea. Esses argumentos acabaram convencendo Jobim.

Lula já decidira substituir o ministro Waldir Pires, mas passou a ter pressa com o recrudescimento da crise aérea. Tinha tanta urgência que, diante da resistência inicial de Jobim, montou um plano B: o deslocamento do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, para o cargo. Mas às 18h30m de terça-feira o presidente recebeu um telefonema de Sigmaringa para informá-lo de que Jobim decidira aceitar a função. Lula pediu então que Jobim fosse para o Planalto às 21h para conversarem, depois que terminasse a agenda do dia. Participaram da reunião no gabinete presidencial os ministros Franklin Martins, Dilma Rousseff (Casa Civil), Paulo Bernardo e o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho. Lula fez questão de afirmar que Jobim seria um ministro de grande prestígio.

- O que convenceu o ministro Jobim foi a avaliação de que ele não iria para o governo para ocupar um ministério, mas atendendo a um apelo do presidente da República para ajudar a resolver a mais grave crise do país. Afinal, Jobim é um homem de espírito público e tem uma visão de Estado como poucos - afirmou Sigmaringa.

Lula elogiou comando das Forças Armadas

Lula foi direto: disse a Jobim que ele tinha carta branca para fazer o que fosse necessário na Defesa. Afinal, completou Lula, não teria sentido trocar o titular da Defesa para não mudar nada. Na conversa, houve consenso de que era preciso mudar tudo no setor, inclusive na Infraero e, dentro da lei, na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Mas os comandantes das Forças Armadas, inclusive o brigadeiro Juniti Saito, da Aeronáutica, permanecerão nos cargos, pois Lula se disse satisfeito com o desempenho deles. Com a dificuldade para mudar a diretoria da Anac, a idéia passou a ser fortalecer o Conselho Nacional de Aviação Civil.

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