Título: No transporte urbano, a hora é esta
Autor: Balassiano, Ronaldo
Fonte: O Globo, 26/07/2007, Opinião, p. 7

Especialistas e técnicos do setor de transportes já conhecem a sigla "BRT", que pode ser traduzida do inglês por sistema de transporte rápido, sistema rápido de ônibus ou sistema expresso de ônibus. Trata-se de nova modalidade de transporte coletivo urbano, onde o ônibus opera com eficácia máxima, em faixas exclusivas e segregadas do restante do tráfego.

Há pouco mais de 40 anos, Curitiba desenvolveu um sistema de transportes que operava de forma planejada e em harmonia com o espaço urbano. Esse sistema tinha lógica muito simples: dar prioridade para os ônibus nos principais corredores de tráfego, inclusive nos cruzamentos, promovendo sua integração com sistemas de menor capacidade. O resultado mostrou ao Brasil e ao mundo a viabilidade de um transporte público de qualidade a custos não muito elevados, associado a um ambiente urbano mais humano.

Existem hoje em operação no mundo mais de 140 sistemas desse tipo. Nem todos tão eficientes quanto o de Curitiba, mas todos, com suas adaptações, seguem o modelo pioneiro ali concebido. Alguns se sofisticaram e contam com modernos dispositivos de controle operacional e tarifário. Os veículos são monitorados em tempo real, e a bilhetagem eletrônica, além de evitar a evasão de receita, dá suporte à atividade de planejamento. O exemplo mais recente é o Transmilênio, implantado em Bogotá, Colômbia, entre 2000 e 2003, e planejado por brasileiros, que o tornaram mais eficaz.

A adoção desse modelo evidenciou um conjunto de benefícios: redução do tempo de viagem e da espera nos pontos de parada; maior confiabilidade no sistema, pois o usuário sabe, por meio de painéis informativos, em quanto tempo estará disponível o próximo ônibus; maior conforto e menor impacto ambiental (o Transmilênio contribuiu para reduzir em 90% o número de acidentes fatais no trânsito e em 40% o nível de emissão de poluentes); revitalização do espaço público e valorização imobiliária.

Outro aspecto relevante é que o custo de implantação de 1km de BRT é quase 10 vezes menor que o de um sistema metroviário subterrâneo, e cai à metade, na comparação com veículos leves sobre trilhos (VLT). Sua capacidade de transporte já é muito próxima à do VLT (25 mil passageiros por hora por sentido, no caso do VLT, e 20 mil, no do BRT), mas o Transmilênio, por exemplo, chega a transportar 40 mil passageiros por hora e por sentido nos horários de pico. O tempo de implantação também é menor quando comparado a sistemas metroviários ou do tipo VLT.

Menor investimento inicial aliado a menor tempo de implantação facilitam a formação de parcerias público-privadas (PPP) e, assim, o BRT vem sendo adotado em todos os continentes. Só nos Estados Unidos, são mais de cem cidades. O país de maior número de automóveis por habitante tem como política prioritária de seu departamento de transportes incentivar e dar suporte à implantação desses sistemas.

De forma idêntica, a China vem investindo significativamente em BRT. Pequim, que será sede dos Jogos Olímpicos de 2008, contará com uma rede de 300km, dos quais 70% já estão operando de forma integrada ao sistema metroviário existente. Seria só coincidência que dois países de características econômicas e socioculturais tão distintas tenham adotado uma mesma solução para o transporte público em suas cidades?

E o Brasil? Pioneiro na concepção do BRT, parece hoje a anos-luz dessas potências, que adaptaram o modelo aqui desenvolvido na década de 60. Nos Jogos Pan-americanos não contamos com nada similar ao que vem sendo implantado nos EUA, na China e em outros países. A cidade do Rio de Janeiro e sua Região Metropolitana continuam a se expandir e necessitam estruturar de forma adequada e eficaz seu sistema de transportes. Projetos estão prontos, mas precisam sair das pranchetas. Operadores e investidores sinalizam com a possibilidade de financiar a implantação de BRTs, adotando a fórmula da PPP. A hora é esta. A não ser que a opção seja esperarmos pela Copa do Mundo de 2014.

RONALDO BALASSIANO é professor do Programa de Engenharia de Transportes da COPPE/UFRJ .