Título: Demitido cedo, Pires pede para sair à tarde
Autor: Gois, Chico de e Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 26/07/2007, O País, p. 8

Tentando poupar o amigo do desgaste da demissão, Lula acaba divulgando versões desencontradas sobre saída.

BRASÍLIA. A saída de Waldir Pires do Ministério da Defesa expôs, mais uma vez, a dificuldade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de demitir seus auxiliares, mesmo que estejam em fritura pública. Preocupado em poupar o amigo, Lula acabou contribuindo para ampliar o desgaste do colaborador graças a uma série de ditos e não ditos ao longo do dia. De manhã, o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, anunciou, com todas as palavras e em nota, que o presidente havia se reunido com Pires e lhe pedido que entregasse o cargo.

À tarde, momentos antes de Lula dar posse ao ex-presidente do Supremo Tribual Federal (STF) Nelson Jobim, assessores do presidente informavam que a edição de hoje do Diário Oficial da União publicaria a exoneração de Pires, mas "a pedido", isto é, como se ele tivesse pedido para sair. A mudança tinha uma explicação: o governo não queria passar à sociedade que havia uma ruptura entre Lula e Pires. Depois do acerto, foi a vez de Lula, no discurso, reforçar a versão:

- Quando você (Pires) me comunicou a sua decisão de sair, compreendi e aceitei. Considero que o momento que estamos vivendo não permite a quem quer que seja interpretar que o companheiro Waldir deixa o governo sem prestar os mais extraordinários e os mais relevantes serviços à nação.

Em site, Pires afirma que não pedira para sair

De manhã, Lula comunicou a Pires que convidara Jobim para a vaga. Na nota lida pelo porta-voz, Lula agradecia o "extraordinário trabalho" de Pires na Controladoria Geral da União (CGU) e elogiava a "altivez com que assumiu e conduziu o Ministério da Defesa". Mas, segundo a nota do porta-voz, Lula ponderou que era necessário um novo perfil para conduzir a pasta. O próprio Pires, na única entrevista que concedeu a um site, disse que não pediu para sair.

Pires seria, até a primeira versão do governo, o segundo ministro a ser demitido por Lula. O outro, também de maneira atabalhoada, foi o então titular da Educação Cristovam Buarque, demitido por telefone, quando estava em uma viagem ao exterior. Mesmo em crises como os casos do mensalão e da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, o presidente não demitiu José Dirceu da Casa Civil nem Antonio Palocci da Fazenda. Palocci, aliás, estava presente à posse de Jobim.

Após a cerimônia, a Secretaria de Comunicação Social divulgou nota corrigindo a informação da manhã: "A informação correta é que Waldir Pires solicitou a sua exoneração ao presidente, a qual será formalizada nesta quinta-feira, no Diário Oficial da União".

Mas o ex-ministro não escondeu a mágoa. A interlocutores mais próximos, demonstrou surpresa com a notícia de sua substituição antes mesmo de uma conversa com Lula. Pires disse ainda que não pediria demissão. Lula teria que assumir o desgaste.

COLABOROU Gerson Camarotti