Título: Zuanazzi se defende responsabilizando Infraero
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 26/07/2007, O País, p. 13

Na CPI do Apagão Aéreo, presidente da Anac bate boca com deputados e diz que não liberou a pista de Congonhas

BRASÍLIA. Em depoimento tenso na CPI do Apagão Aéreo da Câmara, que durou quase cinco horas, o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, admitiu que as novas medidas recomendadas pelo governo para enfrentar a crise aérea podem gerar problemas, bateu boca com deputados e transferiu para a Infraero a responsabilidade sobre a liberação da pista de Congonhas. Diante de intervenções de deputados pedindo sua saída, afirmou não ter apego ao cargo e classificou de "injustas e desumanas" as críticas contra ele e a agência.

Zuanazzi disse ter convicção de que está fazendo o que pode para resolver a crise aérea e defendeu a construção de um outro aeroporto em São Paulo. Sobre as novas medidas, afirmou, por exemplo, que nos casos do Rio, quando os vôos foram transferidos do Santos Dumont para o Tom Jobim, e de Minas Gerais, na transferência de Pampulha para Confins, as operações foram simples porque os aeroportos estavam ociosos, o que não é o caso dos de São Paulo. A ordem do governo é utilizar até o aeroporto de Jundiaí, em São Paulo.

- Vão ocorrer problemas? É evidente que vão. No Rio foi fácil, você tinha um Galeão (Tom Jobim) muito ocioso. Em São Paulo, não há ociosidade. Guarulhos já opera com uma folga apenas para receber vôos de Congonhas (quando fica sem teto). Mas cabe à Anac acatar as determinações do Conac.

Para Zuanazzi, pista era segura

Zuanazzi disse ainda que a obra na pista do aeroporto de Congonhas foi de manutenção e, por isso, não ocorreu uma nova homologação por parte da Anac, jogando a responsabilidade para a Infraero. Para ele, a pista estava segura. pilotos, a tripulação e o avião, em ordem e habilitados. O Airbus foi inspecionado em Xangai, quando comprado pela TAM, mas ele disse que a empresa responsável pela revisão era credenciada e que a Anac avalizou.

Os ânimos se acirraram quando o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) responsabilizou a Anac pela liberação da pista de Congonhas, citando que a lei que criou a agência prevê que ela homologue em casos de construção ou mesmo reforma. Pouco antes, a deputada Luciana Genro (PSOL-RS) já havia acusado a Anac de "defender os interesses das empresas".

- Não fez (o que estava previsto na lei de criação da Anac) e, se fez, liberou aquela pista assassina - disse Vic Pires, provocando um riso irônico em Zuanazzi, e reagindo:

- Não ria! Eu o vi rindo!

- E o senhor me respeite, me respeite! - respondeu Zuanazzi, que teve os microfones cortados.

Em vários momentos, o dirigente rechaçou as críticas.

- Estão culpando quem não tem culpa. Cobrem as ações da Anac naquilo que ela efetivamente pode fazer. Não sou apegado a cargo. Nunca fui. Mas tenho convicção de que estou fazendo que posso. Recebo as críticas da forma mais humilde possível, mas, quando são injustas, ninguém gosta de ouvir - disse Zuanazzi, sem responder, mais tarde, se deixaria o cargo caso o ministro da Defesa, Nelson Jobim, peça.

O presidente da Anac foi bombardeado pela oposição sobre a medalha que ganhou da Aeronáutica. Respondeu que, como agraciado, não lhe cabe explicar o motivo da premiação.

- Não esperávamos que a Aeronáutica fosse insultar o povo brasileiro num momento desses - disse Gabeira.