Título: Jobim critica gestão do governo
Autor: Franco, Ilimar e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 27/07/2007, O País, p. 3
No mesmo dia, Tarso Genro manda PF investigar aeroportos, passando por cima da Anac.
Em sua segunda entrevista em menos de 24 horas como ministro da Defesa, Nelson Jobim disse ontem que sua prioridade imediata, no enfrentamento da crise aérea, é garantir a segurança de pousos e decolagens nos aeroportos no Brasil. Para isso, avisou que usuários do sistema aéreo, em nome da segurança, poderão ter que conviver por mais algum tempo com desconforto e filas. Num discurso com críticas à política do governo Lula para o setor, o ministro reafirmou sua disposição de mudanças no sistema, inclusive no modelo da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), e disse que o país não quer saber de explicações, mas de resultados. No mesmo dia, o ministro da Justiça, o petista Tarso Genro, que está no governo desde a primeira posse do presidente Lula, mandou a PF investigar os aeroportos, passando por cima da Anac.
- Nossas prioridades começam pelo decolar, trafegar, para chegar, finalmente, à comodidade. Se o preço da segurança for manter por algum tempo a fila, será mantida. Temos a responsabilidade da segurança. Se o preço da segurança for o desconforto, será mantido o desconforto. Dando a segurança caminharemos para dar o conforto - disse Jobim, que acrescentou:
- Nossas ações são julgadas não pelas nossas intenções, mas pelos nossos resultados. A história não registra e não grava boas intenções, mas o que fazemos e o que deixamos de fazer. Ela não aceita explicações. Aliás, doutor Ulysses (deputado Ulysses Guimarães) referia-se, quer na atividade política, quer na gestão administrativa, à regra do primeiro ministro inglês Disraeli: "Nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe". Aja ou saia. Faça ou vá embora - disse Jobim diante de seu antecessor Waldir Pires e de comandantes militares.
Mudança na Infraero é certa
O novo ministro da Defesa repetiu: o setor aéreo passará por profunda reformulação. Ele disse que espera decidir até domingo o novo presidente da Infraero, que, segundo ele, será um gestor, não importando se civil ou militar. Confiante na carta-branca que lhe foi dada por Lula, afirmou também que não faltarão recursos para resolver a crise aérea, porque, disse, essa é uma prioridade do presidente.
- O que disse ao Paulo (ministro do Planejamento, Paulo Bernardo) é que, nesse caso, o que for preciso é o que for necessário - contou.
Ele afirmou ainda que no fim de semana terá uma definição sobre o que fazer com a Anac, mas sinalizou que o modelo atual não está adequado às necessidades do setor:
- Vou examinar o tema, e, se entender que o modelo da Anac não se ajusta ao da aviação civil, a solução é mudar.
O ministro considera que o governo Lula aplicou mecanicamente o modelo de agências reguladoras implantadas pelo governo Fernando Henrique, como a do setor de telecomunicações (Anatel), ao criar a Anac, na medida em que esta pode não ter sido a melhor solução para o setor. Qualquer mudança no modelo da Anac terá que ser aprovada, em lei, pelo Congresso.
Jobim tratou as medidas anunciadas pelo governo na semana passada com reserva. Disse que são provisórias e que dependem de análise mais profunda. Quando se referiu à segurança nos vôos, criticou o enfoque dado às reformas nos aeroportos:
- Observem que no Brasil fizemos, durante os últimos tempos, várias reformas de aeroportos. Mas era toda uma perspectiva de comodidade dos usuários. Ontem, o presidente Lula definiu claramente que não se teve nenhuma maior visão sobre as questões relativas às estruturas de pouso e decolagem. Teve preocupações com implantação de shoppings centers e criação de cinemas.
AS CRÍTICAS DE TARSO GENRO À ANAC na página 9