Título: Isso aqui tem que funcionar como uma orquestra, e o maestro sou eu
Autor: Franco, Ilimar e Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 27/07/2007, O País, p. 4

Jobim diz que troca de comando na Infraero pode ser uma das mudanças no setor.

BRASÍLIA. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, reafirmou, em sua segunda entrevista coletiva, que fará mudanças tópicas no sistema aéreo, mas antes disso quer ter uma avaliação completa da situação - o que pretende fazer ao longo do fim de semana. Sobre sua gestão, ele disse que pretende transformar o Ministério da Defesa numa orquestra que o terá como maestro, pondo fim aos comandos fora de regência. Uma das primeiras mudanças poderá ser a troca de comando na Infraero.

- Lembrem a diferença entre necessidade e possibilidade. (O presidente da Infraero, no caso de mudança, terá o perfil) Gestor. Gestor. Civil ou militar, não interessa. O que interessa é ser gestor - disse o ministro.

Quanto à crise aérea que há dez meses atormenta o brasileiro, fez questão de dizer que o Estado tem responsabilidade na solução do problema. No entanto, cobrará responsabilidade também das empresas aéreas. Leia os principais trechos da entrevista:

CONTROLADORES DE VÔO: "Nós precisamos rever toda a estruturação. A questão básica vem do nascimento do Ministério da Defesa, da qual não participei diretamente, mas como ministro da Justiça fiz algumas observações. Precisamos rever a estruturação completa. Não podemos deixar que haja mais comandos fora de regências. Isso aqui tem que funcionar como uma orquestra, e o maestro sou eu, sob as ordens do presidente. Ou seja, a música e a composição são do presidente, eu executo isto. Vamos trabalhar como um conjunto nesse sentido."

DESMILITARIZAÇÃO DO CONTROLE AÉREO:"O que precisamos é formular uma política global, inclusive para gerir a formulação do orçamento das diversas forças. Ministro não tem opinião, tem decisões."

ABERTURA DE CAPITAL DA INFRAERO:"Não tem (decisão). Temos que fazer um debate longo, ouvir, ouvir, para depois decidir. O problema todo não é voluntarista. Tudo faz parte do contexto global que temos de definir no curto prazo."

PERFIL DO PRESIDENTE DA INFRAERO:"Vamos tratar disso até o fim de semana (com o presidente). Meu fim de semana vai até domingo. Sou da semana portuguesa, que vai de domingo a domingo. A tendência pode ser esta (de mudança). Há possibilidade, não segurança."

PRETENSÃO DE CANDIDATURA EM 2010:"Nenhuma. A minha mulher não deixa."

MINISTÉRIO DA DEFESA:"Eu creio que ele tem problemas, digamos, estruturais. A criação do Ministério da Defesa foi um processo. Houve um compromisso de campanha do presidente anterior (Fernando Henrique Cardoso), da criação do Ministério da Defesa, que era uma expectativa da esquerda brasileira à época. Quando se instalou, o governo teve um processo de transição. A transição, ou seja, a implantação do Ministério teve necessidade de criar determinadas situações de concessões em termos de níveis de autonomia dos antigos ministérios militares. Lembrem-se disso. Isso era absolutamente necessário para o processo de implantação. Agora, já passamos desse tempo. Já cruzamos o deserto relativo a esse modelo. Agora, temos que revê-lo"

MUDANÇAS NA ANAC:"Espero, vamos examinar as competências da Anac, a legislação e a estrutura, e que vá cumprir suas tarefas e suas funções. Terei um diálogo com o presidente Milton Zuanazzi até o fim da semana. É evidente que nós precisamos lembrar o seguinte: nesse setor, não há que se tomar decisões que tenham como fundamento origens partidárias."

CRIAÇÃO DA ANAC:"Temos várias agências com temáticas distintas. A opção do governo anterior (Fernando Henrique) foi a das autonomias, que estava dentro da regra da privatização dos serviços públicos. Começou primeiro na telefonia, com o ministro Sérgio Motta, onde temos uma lei muito bem elaborada. A questão é que nós não podemos universalizar o conceito de agência, depende da área de sua destinação. A questão é saber se nós precisamos manter o modelo de agência, tipo Anatel, para a aviação civil. Nós fizemos uma generalização completa em termos de agências."

AGÊNCIAS/MERCADO: "A discussão que se faz, principalmente nas escolas econômicas, é em relação à liberdade de mercado, porque o Estado não pode entrar no mercado etc. Nós temos que examinar a circunstância nacional e sobre isso não tenho noção clara ainda. Não tenho, mas fiquem certos de que terei. Vou examinar o tema e, se entender que a modelagem da Anac não se ajusta ao modelo de aviação civil brasileiro, a solução é alterar, é mudar. Não podemos ficar com engessamentos do que, eventualmente, não esteja funcionando. Se não está funcionando, altera-se, vamos trabalhar nesse sentido."

PARENTES DAS VÍTIMAS:"Terrível. Em relação às famílias ligadas ao acidente, um lamento profundo. Minha comiseração e o anúncio de assunção de responsabilidades. Não se reconstrói, não se recompõe aquilo que se perdeu. O lamento é a grande manifestação e foi o que quis transmitir com o minuto de silêncio."

SEGURANÇA DE VÔO: "Vamos examinar níveis de problemas que estamos enfrentando. Observem que no Brasil fizemos, durante os últimos tempos, várias reformas de aeroportos. Mas era toda uma perspectiva de comodidade dos usuários. (...) Teve-se grande preocupação no que diz respeito à implantação de shopping centers e à criação de cinemas etc. Eu, como tenho muito medo (de perder vôos), tenho problema de horário, gosto de chegar muito cedo (aos aeroportos), isso tudo é muito simpático. Mas nós precisamos escolher as nossas prioridades. E as nossas prioridades começam pelo decolar, trafegar, para chegar, finalmente, à comodidade. Se o preço da segurança for manter por algum tempo a fila, será mantida."

EMPRESAS AÉREAS:"Vamos trazendo (chamar) a responsabilidade inclusive às empresas aéreas. A responsabilidade é do Estado, mas também daqueles que a exercitam. (Espero das empresas) Responsabilidade, solidariedade e integração. O que nós precisamos ter é uma grande união nacional para resolver esse problema. Temos que deixar bem claro que essa unificação é uma exigência nacional para resolver um tema grave."

RECURSOS: "Sendo este o custo da segurança, vai haver (recursos). É uma questão de estabelecer prioridade e o presidente definiu como prioridade. O que disse ao Paulo (Bernardo, ministro do Planejamento) é que, nesse caso, o que for preciso é o necessário. E ele disse "tudo bem". Há uma diferença entre as necessidades de ministérios e as necessidades nacionais. Aqui estamos diante de uma necessidade definida pelo presidente, logo, vamos ter esses recursos."

MEDO DE AVIÃO:"Não tenho, nunca tive medo de avião. Eu tinha um amigo que chegava a pegar na mão da gente quando o avião ia sair. É seguro (voar no Brasil), claro que é seguro, não podemos generalizar um fato lamentabilíssimo. Tanto é seguro que a população pretende continuar viajando. Senão, não teríamos fila."