Título: Crise afeta venda de pacotes internos
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 27/07/2007, O País, p. 16

Demanda caiu 25% no semestre e deve fechar ano com queda, diz Abav.

O desastre com o Airbus da TAM agrava o cenário de retração por que passa o turismo interno brasileiro neste ano. Segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), no primeiro semestre, houve queda de 20% a 25% na venda de pacotes nacionais, frente aos primeiros seis meses de 2006. A associação projeta também um fechamento de ano ruim.

- Desastres aéreos causam um impacto momentâneo, de 15 dias. O Brasil é um país continental e as pessoas precisam viajar. Mas esse cenário de caos que se mantém não permitirá uma recuperação do setor: as vendas nacionais fecharão 2007 em queda - prevê Leonel Rossi, diretor de assuntos internacionais da Abav.

Rossi acrescenta que o turismo do Nordeste sai bastante prejudicado com a crise. Segundo ele, a região, que seria destino de muitos brasileiros em feriados, perde espaço para cidades menores ao redor das principais metrópoles do país:

- Num raio de 400 quilômetros, as pessoas optam por carro. Já registramos um aumento de 20% na ocupação dos hotéis e pousadas ao redor das metrópoles.

Para Fernando Rodrigues, diretor da agência Latin-American, as agências de turismo podem, a curto prazo, sofrer uma redução nas vendas.

- Além da insegurança, as pessoas passaram a sentir medo de viajar de avião - disse ele, lembrando que tarifas promocionais, parcelamento de viagens e câmbio favorável podem ajudar a compensar as perdas.

Para Paulo Pimentel, diretor do Grupo Marsans, os consumidores podem, num primeiro momento, adiar planos de viagem, evitar uma ou outra companhia aérea ou optar por viagens de ônibus ou carro. Mas ele acredita que essa reação é passageira e que os negócios podem ser recuperados a partir de outubro, quando ficam mais intensas as vendas para a alta temporada:

- E as pessoas estão viajando no momento. Agora, não é o período para se fecharem viagens de férias, em geral. Até por isso os impactos serão atenuados.

Crise afeta intercâmbio e turismo de negócios

Pimentel afirmou que os Jogos Pan-Americanos podem ajudar o país a atrair turistas estrangeiros, pois o Brasil está apresentando uma boa imagem ao mundo.

A CVC - operadora que freta vários vôos com a TAM - não acredita em cancelamentos por causa do acidente. Ainda aposta no parcelamento das viagens e no câmbio favorável para compensar a crise nos aeroportos. A empresa espera encerrar 2007 com crescimento de 30% no volume de vendas de pacotes aéreos, e ampliar a oferta de viagens internacionais.

Empresas de viagens de intercâmbios se queixam. A IE-Intercâmbio no Exterior, por exemplo, tem perdido clientes. Segundo a empresa, passageiros que têm os vôos cancelados muitas vezes precisam adiar o início do curso no exterior. O prejuízo na agência já chega a 4% do faturamento.

O turismo de negócios também sai prejudicado, lembra Rodrigues, da Latin-American. Após o acidente, executivos vão reforçar um comportamento dos últimos meses: viajar menos de avião, ir mais de ônibus e fazer mais videoconferências.

E algumas empresas já precisaram alterar procedimentos. A rotina dos executivos da Dermage sofre modificações diretas por causa do caos aéreo. A empresária Lisa Braun, da Dermage, que precisa visitar seus pontos-de-venda em todo o país, está evitando viajar. Ela quer se poupar de perdas de tempo e momentos de insegurança.