Título: Tarifas subiram o dobro da inflação em 5 anos
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 27/07/2007, O País, p. 16

Apesar de queda a partir de 2006, passagens de avião tiveram reajuste de 102,8%, enquanto IPCA avançou 47,26%.

Em 2006 e no primeiro semestre deste ano, os preços da passagens aéreas registraram queda. Mas, no acumulado de 2002 - ano em que a Gol se firmou no mercado de aviação brasileiro, e as empresas ainda sofriam o baque dos atentados de 11 de setembro de 2001 nos EUA - até o mês passado, as tarifas subiram mais que o dobro da inflação ao consumidor. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em cinco anos e meio as passagens aéreas tiveram reajuste de 102,87%, contra uma inflação medida pelo IPCA de 47,26% no mesmo período. A queda em 2006 foi de 9,64% e este ano, de 0,31%.

Já em uma coleta feita pela Fundação Getulio Vargas, de 2000 até o primeiro semestre deste ano, as passagens aéreas subiram 75,28%, contra 63,43% do Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

O coordenador de Análises Econômicas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, Salomão Quadros, explicou que 2000 a 2002 foi um período de aumentos elevados. De 2003 a 2005, houve altos e baixos. Os baixos foram puxados com a entrada na Gol no mercado e o início da guerra de preços. Mas houve fortes aumentos em 2003, nas eleições presidenciais, quando o dólar disparou por causa do temor da vitória do PT, pressionando os custos. A partir do ano passado, a estabilidade, a queda do dólar em relação ao real, uma certa contenção na alta dos preços do petróleo e a forte competição levaram os preços a quedas acentuadas.

Quadros disse que as tarifas aéreas vêm caindo sensivelmente sobretudo a partir de 2004, apesar de algumas altas momentâneas. No entanto a queda mais acentuada nos preços foi a partir do ano passado. Segundo Quadro, do início de 2006 até junho deste ano, as tarifas ficaram 37% mais baratas, enquanto o IPC subiu 4,62%. Desde 2004, os preços dos bilhetes caíram 26,12%, contra alta de 16,66% no IPC.

- Com a queda do dólar, redução dos custos e recuo da cotação do petróleo, os preços das tarifas têm registrado quedas significativas nos últimos tempos - disse Salomão.

Os especialistas destacam que, num primeiro momento, os consumidores se beneficiaram com a queda nas tarifas, que se popularizaram, levando muitas pessoas a viajar de avião pela primeira vez. O especialista Gustavo Cunha Mello, da Correcta Consultoria e Seguros e professor de MBA de Gestão de Riscos da UFF, destaca que essa redução de preços não foi acompanhada da manutenção e da melhoria da qualidade dos serviços e da segurança. Além disso, Mello ressaltou que o governo não fiscalizou o setor, permitindo a concentração dos centros de distribuição de vôos (hubs) em Congonhas e em Brasília:

- Uma das falhas foi que o governo não fiscalizou as empresas aéreas nem ampliou a infra-estrutura.

Segundo dados apurados por Mello, em 2003, dos 71,3 milhões de passageiros transportados nos aeroportos brasileiros, 61,3 milhões viajaram em vôos domésticos. No ano passado, foram 102 milhões de passageiros, dos quais 90 milhões em vôos dentro do país. Em 1996, o volume de passageiros em vôos nacionais era de cerca de 16 milhões.

Ele destacou que a guerra de preços a partir de 2002 atingiu também a ponte aérea Rio-São Paulo. A Gol, já em 2002, começou a participar do pool, reduzindo preços. O especialista alerta que no caso de mudança na malha da ponte aérea, os preços das passagens teriam um aumento de no máximo 15%, considerando troca de modelo de avião, com a redução do número de passageiros por vôo.

A ponte aérea, a rota mais cobiçada pelas companhias, apresenta oscilação de preços dependendo do horário e do aeroporto de onde o vôo está partindo e chegando. A ligação entre as duas principais cidades brasileiras é a escolhida pelas empresas para a chamada guerra de tarifas.

Pesquisa feita nos sites de companhias aéreas, levando em conta uma viagem apenas de ida para São Paulo, no dia 31 de julho, saindo dos aeroportos Santos Dumont e Tom Jobim para Congonhas e Guarulhos, respectivamente, apresenta preços diferenciados. Na Gol, o trecho Santos Dumont-Congonhas sai a R$199. Para Guarulhos, o preço varia de R$149 a R$500.

Ponte aérea Rio-SP chega a custar R$634

Já na TAM, os preços vão de R$299,50 a R$589,50 no Santos Dumont, e chegam a R$589,50 no Tom Jobim. Pela Varig, os preços variam de R$235 a R$634 no Santos Dumont. No Tom Jobim, há somente um vôo no dia pesquisa, a R$171.

Mello afirmou que, com a saída gradual da Varig do mercado a partir de 2005, a TAM e a Gol, juntas, têm praticamente 85% do mercado. Com isso, segundo ele, as duas passaram a oferecer preços muito baixos em vôos regionais, inviabilizando a existência de pequenas companhias:

- Com a concentração de mercado, as duas começaram a baixar preços de passagens regionais. No primeiro momento foi bom para o consumidor, mas depois que a empresa regional sai do mercado, em geral elas sobem os preços.

A Gol não comentou o assunto. Segundo o vice-presidente de Planejamento e Alianças da TAM, Paulo Castello Branco, as campanhas promocionais da companhia têm perfil nacional e não estão restritas aos vôos nacionais:

- Não procede a informação de que fazemos concorrência predatória. As promoções realizadas pela TAM (que resultam em redução de tarifas) atingem o país inteiro.

Já sobre tarifas, Castello Branco ressaltou que, apenas no último ano, o preço médio das passagens aéreas sofreu queda em torno de 30%.

COLABORARAM Mirelle de França e Erica Ribeiro