Título: BC: cenário externo vai afetar juros
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 27/07/2007, Economia, p. 26

Segundo ata do Copom, turbulência internacional balizará corte da Selic.

BRASÍLIA. Os efeitos futuros da turbulência experimentada ontem pelos mercados financeiros internacionais tendem a ser o voto de minerva em relação à magnitude do corte da taxa básica de juros a partir de setembro. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, o Banco Central (BC) demonstrou que há equilíbrio entre os indicadores macroeconômicos que influenciam positiva e negativamente a política de juros, devido aos seus reflexos na inflação - que continua dentro da meta estabelecida no curto prazo. Porém, de forma sutil, deu sinais de que os riscos internacionais podem crescer daqui para frente, com impactos para o Brasil.

Por isso, a maior parte do mercado - que já está apostando nessa tendência há dois meses - acredita que a próxima redução da taxa Selic será de 0,25 ponto percentual. Pesa também a forte divisão da diretoria, que na última reunião aprovou a queda de 0,5 ponto por quatro votos a três. A Selic está em 11,5% ao ano.

A autoridade monetária referiu-se especialmente aos problemas no mercado imobiliário americano, afirmando na ata que há probabilidades de "contaminação dos mercados, notadamente de países emergentes, em conseqüência de turbulências no mercado financeiro asiático, no mercado imobiliário subprime norte-americano e nos hedge funds".

Analista aposta em queda de 0,25 ponto na taxa básica

Além disso, o BC voltou a afirmar que ainda não consegue avaliar com precisão os impactos das reduções na Selic feitas desde setembro de 2005 e, assim, afirmou que poderá ter "maior parcimônia" nas decisões futuras. Porém, reafirmou que a expansão da economia e da demanda ainda não gera pressões significativas sobre a inflação no curto prazo. O crescimento dos investimentos e das importações, avaliou, continua equilibrando esse cenário.

Por essas razões, o economista-chefe do Unibanco Asset Management, Alexandre Mathias, aposta que, nas três reuniões do Copom que restam neste ano, os cortes serão de 0,25 ponto em cada. No curto prazo, afirmou ele, as incertezas que vêm de fora podem impactar no câmbio e, assim, enfraquecer um dos pilares que hoje dão suporte ao controle da inflação.

- Além disso, os indicadores de inflação já têm vindo um pouco acima do esperado - acrescentou Mathias.

O Copom chamou a atenção ainda para os riscos dos preços do petróleo e considerou "menos plausível" a estimativa de que não haverá aumento de preço de gasolina no país neste ano.