Título: Tesouro cancela leilão de títulos por causa de turbulência internacional
Autor: Beck, Martha
Fonte: O Globo, 27/07/2007, Economia, p. 26

AMEAÇA GLOBAL: Taxas exigidas pelos investidores foram muito elevadas.

Mantega diz que Brasil tem economia forte para enfrentar crise externa.

BRASÍLIA. As turbulências no mercado financeiro em virtude da preocupação dos investidores com o mercado imobiliário nos Estados Unidos levaram o Tesouro Nacional a cancelar ontem um leilão de títulos públicos. Isso não ocorria desde maio de 2006, quando o mercado também ficou nervoso por causa da economia americana. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu não saber a extensão da volatilidade. Mesmo assim, assegurou que o crescimento da economia brasileira não será prejudicado porque o país tem fundamentos sólidos.

- Não sabemos ainda a dimensão da crise. Pode ser algo passageiro. Nem sei se é crise, eu falaria em turbulência. Mas seja lá qual for a duração, estamos a cavaleiro (por cima) porque a economia brasileira está sólida - disse o ministro, ressaltando que, enquanto a crise não afetar o crescimento mundial, a situação será positiva.

Segundo Mantega, as armas do Brasil hoje são o regime de câmbio flutuante, saldo positivo em conta corrente, reservas elevadas e inflação controlada. O ministro destacou ainda que a economia tem crescido, não apenas por causa do mercado externo, mas também do interno, que ajuda a compensar problemas internacionais.

O ministro comentou ainda o fato de as turbulências terem provocado a desvalorização do real. Admitindo que isso beneficia os exportadores, mas pode deixar de contribuir para o controle da inflação, ele disse que "não podemos ter o ovo e a galinha ao mesmo tempo". Mesmo assim, Mantega destacou que o fortalecimento do dólar não significa pressão inflacionária:

- Abaixo de R$2, o dólar já contribui para uma inflação mais baixa. Subir um pouquinho não vai criar pressão.

Apesar do otimismo do ministro, o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Guilherme Pedras, explicou que a decisão de cancelar o leilão de títulos ocorreu porque as taxas exigidas pelos investidores estavam muito elevadas. Mas ele destacou que o Tesouro fez emissões ao longo de junho para honrar os compromissos da dívida em julho, o que deu ao governo a tranqüilidade de não precisar fazer o leilão num momento de volatilidade.

- Havia demanda pelos títulos, mas decidimos ajudar a acalmar o mercado. Mostramos que temos caixa para enfrentar turbulências. Não tinha porque o Tesouro sancionar essas taxas (que estavam sendo exigidas pelo mercado) - disse.

O coordenador concordou que a volatilidade é passageira:

- Terça-feira também foi um dia de volatilidade, mas fizemos um leilão e conseguimos vender todos os títulos, mesmo os de longo prazo.