Título: Pane burocrática em Congonhas
Autor: Rodrigues, Lino e Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 28/07/2007, O País, p. 3

Pista principal é reaberta, mas passa duas horas fechada novamente por falta de documento.

Uma pane burocrática envolvendo Infraero, Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e Comando da Aeronáutica marcou ontem a reabertura da pista principal do Aeroporto de Congonhas, interditada desde o acidente com o Airbus da TAM, que completou ontem 11 dias. A liberação da pista foi anunciada às 12h20m, pela Infraero. Cinco minutos depois, os militares da torre de controle de vôo ordenaram que as operações de pouso e decolagem fossem suspensas outra vez. Alegaram a falta de um documento chamado Notice Air Man (Notam), que alerta pilotos e outros funcionários sobre as operações de pista. A Aeronáutica só autorizou a reabertura às 14h43m. Nenhum órgão assumiu a responsabilidade pela confusão.

O último Notam emitido fazia referência ainda ao fechamento da pista, logo depois do acidente, no dia 17. Para que as operações pudessem ser retomadas, a Infraero deveria encaminhar primeiro à Anac um pedido de substituição do Notam. A Anac, por sua vez, repassaria o pedido ao Ministério da Aeronáutica.

- Nós entregamos a pista. Agora, o problema é deles (controladores e Anac) - disse, ainda de manhã, o presidente da Infraero, brigadeiro José Carlos Pereira.

No meio da tarde, a Aeronáutica repetiu que a responsabilidade pela emissão do documento era da Infraero e que a reabertura da pista às 12h20m fora irregular. O desentendimento aconteceu no mesmo dia em que o novo ministro da Defesa, Nelson Jobim, fez uma vistoria em Congonhas. Acompanhado de diversas autoridades do setor, ele esteve lá, porém, antes da abertura da pista principal.

Airbus 320 da TAM fez primeiro pouso

A pista voltou a fechar, uma segunda vez, entre 16h40m e 16h57m. Desta vez, o pedido foi da Infraero, que, juntamente com técnicos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), queria vistoriar as obras já feitas de "grooving" (ranhuras que ajudam a escoar a água da chuva) na pista. De acordo com a Infraero, o "grooving" já foi feito em 120 metros de pista, no trecho central e nas extremidades das pistas 17 (Campo Belo) e 35 (Jabaquara). Até o fim dos trabalhos, a pista principal será mantida em operação apenas em dias sem chuva.

Por coincidência, o primeiro vôo a pousar na pista principal também partiu de Porto Alegre (origem do vôo JJ 3054 que explodiu na terça-feira da semana passada), era um Airbus 320 (o mesmo do acidente) e operado ainda pela TAM. Ele pousou às 12h23m, com 75 passageiros a bordo - a capacidade total do avião é de 138. O comandante escondeu o crachá para não divulgar o nome. Ele disse que o pouso foi tranqüilo e que só foi avisado de que usaria a pista principal quando iniciava os procedimentos para descer em Congonhas.

- Tivemos um vôo e um pouso tranqüilos - disse ele.

Os passageiros afirmaram que ficaram surpresos.

- A aterrissagem foi perfeita, mas todos os passageiros estavam preocupados. O comandante não havia avisado que o pouso seria na pista principal - contou o técnico em suprimentos Milton Sebastião, que estava a bordo.

- Já embarcamos em Porto Alegre com medo. Ficamos ainda mais apreensivos quando soubemos que o pouso seria em Congonhas - disse o coordenador técnico Rogério Barbosa.

À noite, fechada de novo, por neblina

Às 20h40m, em função da forte neblina, a Infraero anunciou o fechamento das duas pistas (principal e auxiliar) de Congonhas para pousos. As decolagens só podiam ser feitas pela pista auxiliar. E não havia previsão de liberação.